(1ª edição)
(01)
“Floresça, fale, cante, ouça-se e viva
A portuguesa língua, e já onde for
Senhora vá de si, soberba e altiva”.
Neste belo terceto bem conhecido, o poeta António Ferreira canta orgulhosamente a galhardia da língua em que tinha aprendido a falar e a que, com a pena, nunca atraiçoou.Gil Vicente (dramaturgo a quem ninguém excedeu na Europa do seu tempo); Sá de Miranda (reivindicador do valor literário do seu idioma pátrio); António Ferreira, (autor de A Castro, tragédia sobre o tema de Inês de Castro, considerada a primeira, no tempo, da literatura portuguesa, o único poeta importante da sua geração que recusou sempre escrever em castelhano); Diogo Bernardes (“o doce poeta” escolhido para cantar as glórias africanas de D. Sebastião); Frei Agostinho da Cruz (o solitário da serra da Arrábida); Luís de Camões (o génio imortal que soube, em Os Lusíadas, elevar à altura dos heróis míticos da Antiguidade figuras da sua época e do seu povo); João de Barros (um dos primeiros gramáticos da Língua Portuguesa e seu defensor entusiasmado, com um Diálogo em Louvor da Nossa Língua (1540), em que demonstra a superioridade do português); Padre António Vieira (com o seu cunho de insuperável elegância e qualificado por Fernando Pessoa de “Imperador da Língua Portuguesa”), e tantos outros do período moderno, bem justificam proclamemos:
“Ditosa Pátria que tais filhos teve”!
No lado oposto, emergem as “mentes iluminadas”asiladas no cérebro de alguns políticos de hoje, sedentos de protagonismo, que se comprazem em registar o seu nome na história ainda que por actos lesivos da identidade de Portugal e do seu mais valioso património, através de um alegado acordo ortográfico.
Um dia, a História acrescentará àqueles responsáveis políticos o nome dos mestres intelectuais que, com o 25 de Abril, se refugiaram no Brasil e hoje, defendendo um tal acordo, se sentem aliviados por haverem pago, por essa via, a dívida de gratidão para com o País que os acolheu. De uns e outros se pode dizer: “Eles destroem tudo, eles destroem tudo, não constroem nada. Uns e outros bem justificam o lamento:
Desditosa Pátria que tais filhos tem.
A fronteira linguística entre Portugal e Espanha nem sempre coincide com a fronteira política. Sobretudo ao norte do Douro – Zona de eclosão de línguas e dialectos românicos e peninsulares – a fronteira é transposta, num sentido e noutro, em bastantes ocasiões. Assim, enquanto Miranda do Douro, Sendim, Riodonor e Guadramil, todas elas aldeias transmontanas do distrito de Bragança, falam dialectos de base leonesa (dos naturais de Leão), já em Ermisende, Calabor La Tejera, na província de Zamora, (Espanha), são, pela sua linguagem, fundamentalmente galaico-portuguesas, embora o leonês e o espanhol não tenham deixado de exercer a sua influência.
O Riodonorês. - Riodonor ou Riohonor é uma curiosa aldeia situada em plena fronteira luso-espanhola. Consta de dois bairros: um espanhol (Rihonor de Espanha, e outro português (Riodonor ou Rionor de Portugal, que faz parte do distrito transmontano de Bragança. A fronteira é constituída nalguns pontos pelo rio que dá o nome à aldeia, mas é na maior parte das vezes uma linha imaginária que passa pelo centro de uma rua que divide duas nações. O falar dos habitantes de Rionor está hoje mais influenciado pelo português do que pelo espanhol.
O Guadramilês – Guadramil, aldeia do distrito transmontano de Bragança situada a um quilómetro da fronteira espanhola, é no que se refere à língua um pequeno enclave leonês no território lusitano.
As características do guadramilês são muito semelhantes às do riodonorês. Por exemplo: o artigo definido masculino é ou e o feminino é a.
O Mirandês. – Estende-se por uma zona portuguesa relativamente extensa nas margens do Douro no espaço que fica compreendido entre o local em que este rio começa a servir de fronteira entre Portugal e Espanha e as proximidades de Angueiras nos concelhos do Douro e de Vimioso. Esta zona, que na Espanha romana pertenceu ao convento asturiano e não ao bracarense e durante a Alta Idade Média à diocese de Astorga, foi objecto de um intenso repovoamento leonês por parte dos mosteiros cistercienses de Espanha o que, juntamente com o difícil acesso a essa região que existe a partir do território português e a maior facilidade de comunicação com Espanha, explica o seu carácter de enclave linguístico leonês dentro de Portugal.
O Sendinês - É uma variedade de mirandês falada em Sendim, aldeia situada um pouco ao sul de Miranda do Douro. Aqui se pronuncia, por exemplo, fista “festa” e furza “força”.
O falar de Barrancos – Em Barrancos, terra pertencente à província do Alentejo situada na fronteira espanhola, fala-se um português de características alentejanas muito misturado com elementos espanhóis quer quanto ao som quer quanto à escrita.
“O conhecimento das regras gramaticais é a base da arte de bem escrever”… (Edite Estrela, Guia Essencial da Língua Portuguesa, p. 64). E que dizer da arte de bem pronunciar? “Pronúncia é poesia. Cada palavra pronunciada é uma rosa.., singela” (João de Araújo Correia, A Língua Portuguesa, Lisboa, Ed. Verbo, p. 30)
Pronunciar bem, escrever sem erros, redigir correctamente, são manifestações de seriedade, de respeito, de amor pela Língua Portuguesa. É evidente que estas atitudes são mais exigíveis a uns que a outros cidadãos, dependendo o grau de responsabilidade da possibilidade de acesso de cada um à aprendizagem, à cultura. Porém, as posições políticas, sociais, culturais de destaque, colocam a quem as ocupa exigências que não se compadecem com os pontapés ou atropelos às regras gramaticais. E, diariamente, a Gramática da Língua Portuguesa é vilipendiada nos meios de comunicação social, (quer nos jornais, quer no Rádio, quer nas Televisões) pelos seus utilizadores. Alguns são políticos, alguns são formados nisto e naquilo, alguns até são professores, alguns até são jornalistas… e muitos deles cometem o crime de agressão à arte de bem pronunciar, à forma correcta de escrever, à boa maneira de redigir. E a Língua Portuguesa, a vítima, sofre, sofre, sofre!
Que pena não existir um tribunal para punir tais infractores!
Como consequência da grande epopeia dos Descobrimentos marítimos em que Portugal ampliou para a Europa e para a civilização ocidental os limites da terra conhecida, a Língua Portuguesa difundiu-se por um vasto domínio que alcançava as regiões mais afastadas ora acolhendo no seu vocabulário uma multitude de palavras indígenas ora cedendo aos nativos, com a evangelização, a sua possibilidade de universalidade.
Quando, no ano de 1551, o inglês Windham chegou à Guiné, o rei de Benim falou-lhe em Português. Sete anos mais tarde um navio inglês encontraria em Cormentin um grande número de indígenas que falavam português. Um escritor francês que visitou a Guiné em 1666 descreve-nos, cheio de assombro, como povos - que não sabiam ler nem escrever - falavam Português.
Mas ponhamos de parte o fabuloso e exuberante Continente Negro e passemos à Ásia. Durante todo o século XVI, o Oriente é português e é no idioma de Camões que se entendem europeus e nativos.
À excepção de algumas linguagens fronteiriças, como o rionorês, o guadramilês e o mirandês, mais que verdadeiros dialectos podemos dizer que existem variedades ou falares, dentro das fronteiras políticas de Portugal. As diferenças locais entre elas nunca são tão grandes que impeçam a mútua compreensão dos falantes, e a sua delimitação torna-se difícil porque as fronteiras variam de fenómeno para fenómeno.
Na década de sessenta foi apresentado um ensaio de classificação dos dialectos existentes no território continental português nos seguintes falares e subfalares: minhoto – subdividido, por sua vez, em alto, central, oriental e baixo minhoto -, transmontano – subdividido em ocidental, central, oriental e baixo transmontano -, beirão – subdividido em oriental ocidental e variedade de Sátão -, falar do Baixo Vouga e Mondego – subdividido em variedade de Aveiro e variedade dos campos do Mondego -, falar de Castelo Branco e Portalegre – e falar meridional – subdividido em alto-alentejano, baixo-alentejano, algarvio e variedade de Almodôvar e Mértola.
A traços largos poderíamos assinalar dentro do mapa de Portugal três vastas zonas de dialectos: Norte, Centro e Sul.
A primeira, mais arcaizante, isto é, que usa palavras ou expressões que deixaram de ser usadas na Língua dita culta, - berço do reino e, de certo modo, da Língua, embora não se possa esquecer a importante contribuição dos dialectos moçárabes do Sul para a fixação do idioma português – compreende as províncias do Minho, Douro e Trás-os-Montes.
A segunda, constituída pelas Beiras, não é senão de transição. Alberga Coimbra, a cidade em que melhor português se fala segundo crença popular, motivada em parte pelo prestígio que irradia a sua velha Universidade mas abonada também pela pouca diferença que aí existe entre linguagem das classes sociais mais humildes e a das superiores.
A terceira é formada pela Estremadura, Ribatejo e Algarve, e inclui, portanto, a Língua da capital, considerada por alguns a Língua-padrão.
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----Raúl Meireles, afinal, não marcou no jogo contra a Islândia!----
Aquele magnífico golo foi sim obra do genial Raul Meireles (sem acento no U!!!) e não do Raúl (com acento no U). As Televisões e os Jornais mostraram à saciedade que não conhecem as regras de Bom Português: usaram e abusaram do termo Raúl. Apresentaram o nome do atleta com acento e, valha a verdade, se o brioso representante da selecção portuguesa tivesse aceitado o assento, provavelmente não chegaríamos àquela saborosa vitória…Parabéns, RAUL! Dás um bom exemplo por não usares o assento (cadeira) quando jogas e ainda por não marcares o u com acento (notação léxica) quando escreves o teu nome, RAUL
Por que razão será assim?
Vejamos as regras (e as excepções) de acentuação, no que importam ao caso em apreço:
Raul é uma palavra aguda – ou oxítona como também se diz – porque a sua sílaba tónica é a última (ul). Ora, rezam as gramáticas:
… “São acentuadas com acento agudo as palavras agudas terminadas em a,e,o abertos (seguidos ou não de -s): já, rajás, maré, bonés, avó, sós, etc.;
…”São acentuadas com acento agudo as palavras agudas cuja sílaba tónica é i, ou u (seguidos ou não de -s) precedidos de vogal com que não formam ditongo: aí, caí, Luís, baú, Esaú, etc.
“Não se aplica esta regra se a sílaba tónica terminar em -l, -m, -r, ou –z: Madail, Raul, Saul, Alpoim, Caim, atrair, juiz, raiz, etc.
Não é obrigatório usar o latinismo quando no vernáculo há a palavra apropriada, Mas, usando-o, use-se correctamente!
Assim, continuar, em Portugal, a dizer mídia por média só pode ser ignorância ou snobismo…
Já em 1983, António Manuel Pires Cabral escrevia, referindo-se ao processo de cruzamento da língua do povo com a língua das classes cultas:…” O ignorante tende para a evolução…” (em “Morrer mas devagar”, in Estão a Assassinar o Português, IN-CM, 1983, p.20).
Mas resta uma esperança: “Que os ministros das Finanças determinem a aplicação de coimas aos prevaricadores (com obrigações culturais, sociais e políticas) das regras gramaticais da Língua Portuguesa”.
Não resistimos a trazer aqui à colação a nota que o Jornal de Notícias inseria na sua edição de 02.02.05: “ A direcção do jornal suíço “Le Temps” decidiu multar em 3.40 euros (680 escudos) os jornalistas que cometam erros ortográficos, durante o mês de Fevereiro. Todos os jornalistas que escrevam mal uma palavra, cometam erros gramaticais ou construam mal uma frase serão sancionados. “Decretámos Fevereiro como o mês da ortografia. Queremos sensibilizar a redacção para o facto de estas falhas prejudicarem a qualidade do jornal”.
Foi na Suíça.
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A triste verdade é que assistimos diariamente a inúmeros atentados ao “corpo da Língua”, mas como escreveu Virgílio Ferreira, “há casos em que o erro é evidente e assim quem nele persiste é excluído do convívio geral”.
Jorge Sampaio, aquando da discussão do último orçamento do Estado, referiu que os “partidos saberiam respeitar os acordos…” Mas, como tantos outros falantes, aquele ex-presidente da República pronunciou acórdos, (com o o tónico aberto). Trata-se, aqui, de um pontapé presidencial na Língua Portuguesa. Explicamos porquê:
A regra geral determina que os substantivos e adjectivos terminados em o átono cuja sílaba tónica é o fechado, ao formarem o plural, mudam o o fechado para o aberto. Exemplos: poço, miolo, ovo, jogo, povo, osso, almoço, olho, tijolo, forno, destroço, socorro, coro, etc.. Nesta conformidade, estes vocábulos terão o o tónico fechado(ô) no singular e aberto no plural, correspondendo à pronúncia ( não à grafia!) ô e ó, respectivamente. Esta é a regra geral que, como regra que é, tem excepções que a confirmam. Há, com efeito, palavras que, na formação do plural, não alteram o timbre da vogal, isto é, mantêm o o fechado também no plural. Exemplos: acordo, adorno, bolo, bolso, consolo, esgoto, estojo, ferrolho, garoto, gosto, lobo, moço, namoro, pescoço, piolho, repolho, rosto, sopro, suborno, etc. Pois é, às vezes esquecemo-nos das excepções…
Também o senhor jornalista da TVI, António Ferrari, confunde o plural de molho (ô) “condimento” (por exemplo: o molho da carne) e de molho (ó) “feixe” (por exemplo: um molho de chaves) já que estas palavras conservam no plural o timbre da vogal do singular: molhos (ô) e molhos (ó), respectivamente. Falando de novos impostos a propósito do orçamento do Estado informou aquele jornalista que “também incidem sobre os molhos “(ó) = feixe. Enganou-se. Ele queria dizer condimentos = molhos (ô).
Acrescente-se que o timbre da vogal do feminino se mantém no plural masculino: porca(ó)/porcos(ó); bolsa(ô)/bolsos(ô), etc .
Relativamente à formação do plural com alteração de timbre da vogal tónica (com o tónico fechado no singular, correspondendo à pronúncia ô), há ainda algumas peculiaridades a atender: Esposos com o aberto designa ele e ela; e esposos com o fechado quando se refere a dois homens, isto é, maridos. Do mesmo modo que avós designa o avô e a avó; e avôs nomeia dois ou mais avôs (homens).
Este fenómeno que consiste na alteração de timbre da vogal tónica por influência da vogal átona designa-se por metafonia.
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1. A pronúncia de U, nos grupos GU e QU seguido de vogal:
Junto de g e de q antes de e, i, o, regra geral, não se pronuncia. Assim, deve dizer-se sequestro, líquido, quociente, como se a vogal u não existisse. (Seqestro, líqido, qociente). Senhor Ministro, não diga seqUestro! É feio e está errado! Aconselha-se vivamente a consulta de uma boa gramática e de um bom dicionário.
Mas há excepções: aguentar, antiguidade, bilíngue, equestre, equidistante, exíguo, sequela…etc. em que o U se pronúncia. A propósito, o Maestro Vitorino de Almeida também desconhece esta excepção já que, entrevistado num programa da SIC Mulher, em 24 de Outubro de 2010, não pronunciou o u na palavra bilingue!!!
2. A pronúncia das palavras graves terminadas em IA:
Todas as palavras em cuja formação entre o sufixo tónico –ia (do grego ia, acentuado no i) são graves: abadia, abulia, alegria, alcoolemia, biopsia, democracia, glicemia, leucemia, septicemia, simetria, etc. Não levam, pois, a marca de acento agudo em nenhuma sílaba! São muitos os falantes a pronunciarem, por exemplo, biópsa, glicémia, septicémia, etc. Mas… são mais uns pontapés na gramática e quem sofre é a Língua Portuguesa…
3. As pronúncias etimológicas: (Rúbrica ou rubrica?)
O acento tónico latino persiste, em português, na penúltima sílaba, quando longa; se for breve, o acento retrocede para a antepenúltima sílaba.
Assim, são graves as palavras “rubrica” e “pudico”, porque, em latim, a penúltima sílaba (-íca e ícus) era longa. (Rubrica e pudica até rima com Benfica!)
Etimologicamente, rubrica designava a terra vermelha: giz encarnado; título escrito com muita tinta vermelha; compilação de leis cujos títulos estavam escritos a vermelho. Actualmente, a palavra rubrica (a rimar com Benfica!) é usada com diferentes acepções: nota, assinatura abreviada (mas a pronúncia é sempre a mesma). A evolução semântica que a palavra sofreu pode ser explicada pelo facto de as anotações e emendas, que se faziam em textos alheios, serem, habitualmente, a vermelho e serem assinadas pelo corrector. Aparece, deste modo, a ligação de cor (lê-se côr mas escreve-se cor sem acento, sempre!) /vermelha com a assinatura e com as notas. Ter-se-á, posteriormente, perdido a noção de “vermelho”, tendo ficado somente a de “nota” e “assinatura”.
(O Sr. Ministro das Finanças, Teixeira dos Santos, tem especial apetência para o erro, pronunciando rúbrica em vez de rubrica…).
Quanto ao adjectivo pudico, é usado como palavra grave por, nomeadamente, Eça de Queirós e Bernardo Santareno. O primeiro usa “pudicas” em Os Maias, e “impudico” em Uma Campanha Alegre. Bernardo de Santareno, em O judeu, escreve “pudico” e “pudicas”.
4. SÉniores, ou SeniOres? JÚniores ou JuniOres?
A questão é saber se a sílaba tónica é, num e noutro caso, O (aberto e sem acento), se são palavras graves.
Ora, dos treinadores portugueses de futebol, o VÍTOR MANUEL é dos poucos que pronunciam bem, (honra lhe seja feita!): ele pronuncia seniOres e juniOres (isto é, como se estas palavras tivessem acento no O. E bem!.
Estes são alguns dos erros, na acentuação ou na pronúncia de palavras, cometidos por muitos falantes da Língua Portuguesa, com as maiores responsabilidades políticas, culturais e profissionais deste País. Da boa pronúncia se ocupa a parte da Gramática designada Prosódia; os erros de acentuação ou pronúncia constituem as “silabadas”.Aqueles infractores dão pelo nome de DISTRAÍDOS ou IGNORANTES.
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Qual a forma correcta?
a) Pais natais ou pais natal?
b) Social-democratas ou sociais-democratas?
c) Guarda-chuvas ou guardas-chuvas?
d) Guarda-nocturnos ou guardas-nocturnos?
e) Chupas-chupas ou chupa-chupas?
As questões prendem-se com a correcta formação do plural dos nomes compostos. Antes de alcançarmos a resposta certa, atentemos que se trata de palavras formadas por composição. A composição é, a par da derivação, um dos processos que mais contribuem para a formação de novas palavras. Por este processo reúnem-se duas ou mais palavras, que podem ser de categorias gramaticais diferentes, a fim de constituírem uma só.
Nas palavras compostas, os dois ou mais elementos reunidos têm uma significação única – apesar de cada elemento, isoladamente, possuir sentido distinto – como em beija-flor (nome de uma ave, também conhecida pelo nome de colibri).
Não é fácil a formação do plural dos substantivos compostos. Para podermos responder ás cinco questões iniciais, observemos apenas as seguintes normas (porque existem outras normas aplicáveis a palavras compostas de forma diferente das cinco em apreço), com fundamento na grafia:
1. Importa explicitar os termos determinante e determinado para se entender a fundamentação, aqui defendida, da forma do plural (pais natal). Com efeito, quanto ao sentido, distingue-se numa palavra composta o elemento determinado, do elemento determinante. Vejamos: – elemento determinado é aquele que contém a ideia geral (pai); elemento determinante é aquele que encerra a noção particular, a noção mais característica (natal).
Ora, a norma gramatical reza assim: “Quando o segundo termo da palavra composta é um substantivo (natal) que funciona como determinante específico, só o primeiro termo (pai) toma a forma do plural.” Logo, o plural da palavra composta pai-natal é pais-natal. O livro intitulado “BOM PORTUGUÊS , Rubrica de Sucesso da RTP”, da Porto Editora, ensina que a forma correcta é pais natais. Porém, aqui… erram os seus autores! Mais uma vez, entidades com responsabilidades cívicas e culturais como é a RTP não sabem o suficiente para ensinar…
2. Nas palavras compostas por dois adjectivos (social e democrata) ambos os elementos se usam no plural: Sociais-democratas.
Porém, se a palavra é composta por dois adjectivos em que o primeiro se apresenta na forma reduzida, só o segundo adjectivo vai para o plural: recém-nascido/recém-nascidos.
3. Quando o primeiro termo do substantivo composto é verbo (guarda) ou palavra invariável e o segundo termo é um substantivo (chuva) ou um adjectivo, só o segundo termo vai para o plural. Assim: guarda-chuvas. Mas atenção:
4. Nas palavras compostas em que o primeiro elemento é a palavra guarda esta leva a marca do plural se for usada como substantivo: Ex: guardas-nocturnos, guardas-republicanos.
5. Se a palavra é composta por dois verbos, só o segundo recebe a marca do plural. Logo: Chupa-chupas.
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(07)
O que é que a Luísa tem e o Luís também? O mesmo que a juíza tem e o juíz não tem!
Para facilidade de compreensão agrupamos as palavras com base na sílaba tónica e, assim, encontramos: duas palavras agudas (ou oxítonas): juiz e Luís; e duas palavras graves (ou paroxítonas): Luísa e Juíza. Convém lembrar, por um lado, que palavra aguda é a que tem acento tónico na última sílaba, enquanto a palavra grave apresenta acento tónico na penúltima sílaba; por outro lado, importa lembrar que não se pode confundir acento gráfico com acento tónico. Com efeito, há palavras cuja sílaba tónica não é acentuada graficamente: casa, rosa, juiz. E há casos em que o acento gráfico não corresponde à sílaba tónica: àquele.
Posto isto, vejamos as regras de acentuação aplicadas naquelas quatro palavras:
Juiz (sem acento) – Regra: “Não se coloca o acento agudo na vogal i quando, em simultâneo: a) é precedida de vogal que com ela não forma ditongo; b) é seguida de l, m, n, r, ou z”. Madail, ainda, atrair, raiz.
Logo, juiz, (sem acento) e não juíz (com acento).
Luís (com acento) – Regra: “As palavras agudas cuja vogal tónica é i ou u (seguidos ou não de –s) precedidos de vogal com que não forma ditongo são acentuadas com acento agudo”. Aí, caí, caís, país, baú, Esaú
Logo, Luís, (com acento) e não Luis (sem acento)
Luísa (com acento) - Regra: “As palavras graves cuja vogal tónica é i ou u, precedidos de vogal com que não formam ditongo e não seguidos de l, m, n, r, z (na mesma sílaba), ou de sílaba iniciada por nh, são acentuadas com acento agudo”. Miúdo, peúga, prejuízo, Coimbra, painço, triunfo, bainha.
Logo, Luísa, (com acento) e não Luisa (sem acento)
Juíza (com acento) – Vale aqui a regra anterior.
Logo, juíza (com acento) e não juíza (sem acento)
Uma grama de ouro ou um grama de ouro?
Porque são demasiado frequentes as ocasiões em que grassam as asneiras nesta matéria a nível de jornalistas, políticos e professores, e por uma questão de economia de espaço e de tempo, não apontamos aqui os múltiplos autores asneirentos.
Em Português, são geralmente femininos os substantivos terminados em a átono (síndroma, por exemplo) mas há excepções: clima, cometa, dia, grama (unidade física de massa que é a milésima parte da massa do quilograma - padrão). Logo, um grama, duzentos gramas…porque é do género masculino.
Mas aquela erva rasteira, prejudicial às culturas, é A grama! Neste caso grama é do género feminino. E porque os tais políticos, os tais jornalistas e os tais professores usam a erva quando deviam usar a massa, eu não os posso gramar…
Senhores jornalistas, não digam que o “Governo Português vai mandar evacuar os cidadãos nacionais que se encontram no Egipto”! É que uma ordem governamental desse jaez seria mais uma violação dos direitos e liberdades fundamentais dos portugueses que teriam de evacuar …ainda que se sentissem bem dos intestinos…
Só o Egipto pode ser evacuado! As pessoas não são evacuadas! Só os lugares, os espaços, são evacuadas.
Senhores jornalistas, vós que tendes a especial obrigação de bem escrever e de bem falar o Português, estudai, estudai, estudai e… respeitai a Língua Portuguesa e respeitai quem tem de vos ler e/ou ouvir! Por exemplo, não digam “ a senhora tem impresso flores nos tecidos”.
O verbo imprimir, com o significado de “gravar” tem duplo particípio. Com o verbo auxiliar ter, emprega-se imprimido (a senhora tem imprimido flores nos tecidos); com o auxiliar ser, emprega-se impresso (as flores foram impressas nos tecidos:
O verbo imprimir com o sentido de “incutir”, “infundir”, “introduzir” tem apenas o particípio imprimido (o ritmo que foi imprimido ao pelotão; o pelotão tem imprimido o ritmo). Imprimir “GRAVAR” e imprimir (INCUTIR) são palavras homónimas (e não homógrafas!) porque têm o mesmo som e a mesma grafia e significação diferente.
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2. Ter aceite ou ter aceitado? (80)
3. Eu reavi ou eu reouve? (80)
4. Será correcto dizer: eu abulo; tu aboles? Se eu me precavisse; se tu te precavesses? (79)
5. Está correcta a frase:” É altura dos portugueses acordarem”?
Antes de avançarmos para a apresentação da forma correcta, impõe-se um esclarecimento prévio:
Os cinco casos apontados foram recentemente vítimas de agressão por parte de tristemente distintos falantes nas televisões. Eles eram políticos, eles eram multimilionários, eles eram jornalistas, eles eram professores…Uns e outros assassinos da Língua Portuguesa!
Vamos lá então argumentar e fundamentar.
1.A sigla que designa “as Organizações Não Governamentais)” lê-se e escreve-se “as ONG”, sem s.
A sigla é uma abreviatura geralmente formada pela sequência das iniciais das palavras-chave que formam o nome completo de alguma coisa, constituindo uma nova designação (CGTP por Confederação Geral dos Trabalhadores Portugueses; PJ por Polícia Judiciária; PSP por Polícia de Segurança Pública).
Nas simples abreviaturas pronunciam-se por inteiro as palavras abreviadas (Sr. lê-se senhor); as siglas soletram-se, pronunciando-se o nome da cada letra em sequência (SA por Sociedade Anónima). Este é o traço fundamental que diferencia as siglas das abreviaturas simples.
A formação e o uso das siglas estão sujeitos a algumas normas, a saber:
-geralmente as siglas escrevem-se com maiúsculas e sem pontos nem espaços entre as letras que as formam;
-as siglas não se dividem no fim de uma linha, sendo tomadas como uma palavra indivisível;
-as siglas dobradas ou isoacrónimos são usadas para designar pessoas famosas cujo nome e apelido têm a mesma letra inicial (BB por Brigitte Bardot).
-as siglas não formam plural (os DVD por discos digitais versáteis)
2. Deve dizer-se: TER ACEITADO; FOI ACEITE.
Há verbos que apresentam particípios duplos: uma forma regular em ado ou ido, geralmente utilizada na formação dos tempos compostos com os auxiliares ter e haver (na voz activa); uma forma irregular, mais curta, habitualmente utilizada com os auxiliares ser e estar. Assim acontece com o verbo aceitar: “obrigado por ter aceitado o nosso convite”; “os políticos não são aceites por muitos cidadãos”.
3. Reaver é um dos verbos defectivos, isto é, não possui todas as formas de flexão verbal conjugando-se apenas em certos modos, tempos e pessoas. Reaver conjuga-se apenas nas formas em que o verbo haver, do qual é derivado, conserva o”v”: reavia…(pretérito imperfeito do indicativo); REOUVE…(pretérito perfeito do indicativo); reaverei…(futuro ); reaveria…(condicional); reouvesse…(pretérito imperfeito do conjuntivo; reavemos, reaveis (apenas) no presente do indicativo; reavei (apenas) no imperativo.
4. Aboles é a forma correcta. Abulo não existe. O verbo abolir é um dos verbos defectivos. Além de não se conjugar na primeira pessoa do presente do indicativo, o verbo abolir não possui as formas do presente do conjuntivo nem do imperativo negativo.
ME PRECAVESSE é a forma correcta. Precaver-se é um verbo regular da 2ª conjugação, que não tem qualquer relação com o verbo irregular “ver”. No indicativo presente só se conjuga na 1ª e na 2ª pessoas do plural e no imperativo afirmativo na 2ª pessoa do plural.
5. Aquando do discurso da tomada de posse do Presidente da República, em 2011.03.09, escrevia-se em rodapé na RTP: “é altura dos portugueses acordarem” como sendo uma das frases em destaque atribuídas ao empossado. Valha a verdade que a frase assim escrita não corresponde à pronúncia efectuada pelo orador. E não está gramaticalmente correcta. Manda a regra que depois da preposição “de” esta não se contraia com o artigo que antecede o sujeito do verbo no infinito pessoal. Logo, deverá escrever-se: “é altura DE OS portugueses acordarem”.
(09)
FAIXA OU VIA?
Ora, estamos perante um vício a que se opõe a propriedade da boa linguagem. É claro que via é uma coisa e faixa é outra.
VIA, que nos vem inalterada do latim, é a estrada, o caminho mais largo; as célebres vias que ligavam a Roma as diversas partes do Império: “todos os caminhos (todas as vias vão dar a Roma”.
Nesse sentido, que é ainda o que tem a palavra portuguesa, todas as estradas e auto-estradas são vias. VIAS que se dividem em FAIXAS. Uma estrada tem duas faixas, uma para cada sentido, ou mais do que uma faixa para cada sentido. As auto-estradas têm, no mínimo, duas faixas para cada sentido; e há sítios onde têm três, quatro ou mais faixas…
Parece, portanto, que não haverá dúvidas ser incorrecto dizer: “a via da direita e a via da esquerda; a ponte tem três vias para cada sentido” em vez de: “a faixa da direita e a faixa da esquerda; a ponte tem três faixas para cada sentido”. Faixas ou, se quiserem, pistas.
Erro, aliás muito vulgar. Mas quem se der ao trabalho de conjugar a expressão verbal, facilmente chegará à conclusão da sua incorrecção. Experimentem usá-la no presente do conjuntivo. Alguém será capaz de dizer: “Eles que se hajam!”? Não. Mas toda a gente diz – e diz bem - ; “Eles que se avenham!”
Avir-se e não haver-se! “Avir-se com alguém” equivale a dizer: “entender-se com alguém”, “tirar satisfações com alguém”
O verbo haver tem efectivamente um uso reflexivo que os dicionários registam – haver-se -, mas significa outra coisa: portar-se, proceder.
Exemplo: Ele houve-se bem no desempenho da sua tarefa.
Mas o desaforo (ou snobismo?) vai mais longe…Um locutor da rádio, referindo-se aos media, a certa altura dizia assim: “Utilizar um media para…” E í está outra incorrecção: media é plural. “Os media” é que é correcto; “o media” não. Se quero usar o latinismo no singular, terei de dizer; o médium. O mesmo se diga de curricula: os curricula, o curriculum.
Não é obrigatório usar o latinismo quando no vernáculo há a palavra apropriada. Mas, usando-o, use-se correctamente…
Os media, o médium; os curricula, o curriculum.
Posto isto, continuar, em Portugal, a dizer mídia por média só pode ser ignorância ou snobismo.
Mas o que falta dizer é que a palavra inglesa – snob – teve origem na expressão latina abreviada: sine nobilitate – s. nob. (=sem nobreza) – que todos os estudantes que não tinham qualquer título de nobreza foram obrigados a apor ao seu nome, para evitar que se pusessem a armar aos cágados, isto é, armar à nobreza.. Daí o seu significado.
Os brasileiros abrasileiraram-na… em esnobe.
Verbos com duplo particípio passado.
Há verbos que apresentam particípios duplos: uma forma regular em –ado ou –ido, utilizada na formação dos tempos compostos com os auxiliares ter e haver; uma forma irregular, mais curta, utilizada com os auxiliares ser e estar.
Ei-los:
N. B. -1. Morto é particípio passado de morrer, mas estende-se a matar só na voz passiva. Por isso, não deve dizer-se: “João foi preso por ter morto, mas sim, “por ter matado".
3. Alguns verbos da 2ª e 3ª conjugação possuem apenas particípio irregular, não tendo conhecido nunca a forma regular em –ido. São eles:
Dizer – dito; Escrever – escrito; Fazer – feito; Ver – visto; Pôr – posto; Abrir – aberto; Cobrir – coberto; Vir – vindo.
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TER A HAVER pede normalmente um complemento directo, pois trata-se de uma expressão verbal transitiva. Exemplo: “Temos a haver uma certa quantia de dinheiro”. Ou então está tudo liquidado e não teremos mesmo nada a haver…
Mas atenção! Diferentemente de muitos outros erros que só se notam na escrita, este é um dos erros que tanto se notam na escrita como se revelam na fala. É que “ter a haver” distingue-se na pronúncia pelo “à”, pronunciado aberto, que resulta da contracção fónica da preposição “a” com a primeira sílaba de “haver”: Tenho “àhver” dez euros.
Vamos primeiro à conjunção:
“A fim de”…introduz uma oração final com o verbo no infinito. Exemplo: “Estudamos a fim de aprender”.
“A fim de que” introduz uma oração final com o verbo em modo finito (neste caso conjuntivo). Exemplo: “Estudamos a fim de que aprendamos”
“Afim” – é adjectivo que significa parecido, próximo. Ao contrário da conjunção, escreve-se tudo junto como não podia deixar de ser. Exemplo: “Ele é meu parente afim”.”Serviços médicos e serviços afins”.
Já agora registe-se que o adjectivo e a conjunção em análise são expressões parónimas (por terem pronúncia e grafia tão parecidas que estabelecem confusão).
Neste caso, a contracção – destas – é incorrecta, pois a preposição – de – não se pode contrair com o determinante do sujeito – estas crianças – do infinito pessoal – usufruírem. Deve ser, portanto: “no intuito de estas crianças usufruírem…”
Recordamos a regra:
Quando as preposições de, em, por, se encontram junto dos artigos o, a, os, as, ou de quaisquer pronomes ou advérbios começados por vogal e se trata de uma construção com o verbo no infinito, a preposição não se funde (não se contrai) com essa palavra imediata, escrevendo-se separada. Exemplos: Falou com ele a fim de ele compreender. Não podemos ir em virtude de os nossos filhos terem saído. Ajudou-me o facto de o conhecer. Digo isto por causa de aqui estarem. A tarefa consiste em eles fazerem isto…
1.“ A quem visitou, ultimamente, algumas cidades alemãs não escapou os efeitos da recessão”.
2. Aquele jornalista, no mesmo programa, concluía assim um dos seus raciocínios;
“Tratam-se de leituras feitas por estrangeiros sobre Portugal…”
São dois erros que não têm nada a ver um com o outro a não ser na incorrecção gramatical. Vejamos então:
1. Erro sintáctico de concordância verbal. Talvez tenha escapado por o sujeito vir depois do verbo… O que não escapou foram os efeitos…Logo, “não escaparam os efeitos” é que é a forma correcta. Sujeito: os efeitos; predicado (verbo): não escaparam.
2.Trata-se aqui de um erro muito frequente que se ouve e vê, na rádio, na televisão, nos jornais e não só…Erro cometido por muito boa gente que tinha por obrigação saber que:
“Tratar-se de…” é uma acepção do verbo tratar, o qual, nesta acepção, é impessoal (só se usa, em qualquer dos tempos, na 3ª pessoa do singular).
“Trata-se de…” corresponde, em francês, à expressão “il s|agit de” e, em latim, à forma verbal passiva agitur. Por aqui se pode deduzir que esta impessoalidade verbal já vem dos tempos latinos…
Nesta conformidade, a forma correcta tem de ser assim: “Trata-se de leituras feitas por estrangeiros…”
Pior… ou Mais mal?
“Antes do adjectivo não deve empregar-se melhor ou pior”; logo, não deve dizer-se: “casas melhor construídas” mas “casas mais bem construídas; o livro mais mal impresso; o concorrente mais bem classificado.
E, no mesmo canal de televisão, o jornalista em serviço comentava assim o jogo Sporting/Olhanenes:…” pese embora os milhões investidos…”
Ora, o predicado da oração (concessiva) é o verbo pesar que deverá concordar sempre com o sujeito que vem a seguir. Logo: Pesem embora as medidas tomadas; Pesem embora os milhões…Pese embora a ignorância do profissional de comunicação!!!
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A palavra moral provém do adjectivo latino moralis (ac. Morale(m) e significa, tendo em conta a etimologia, tudo o que se relaciona com os costumes (lat.: mos, moris). Nas línguas novilatinas, o adjectivo, por via da derivação imprópria, substantivou-se, podendo usar-se ora como adjectivo ora como substantivo. Como adjectivo, tem de sujeitar-se ao género do substantivo a que esteja ligado: o comportamento moral; a atitude moral…
Como substantivo, pode ter os dois géneros, mas a semântica (o significado) é diferente consoante o género: a moral é uma coisa; o moral é outra. Ora vejamos:
A “moral das tropas” ou “a moral dos jogadores” de futebol pode ser elevada (são bonzinhos, não são criminosos…) e também: o moral das tropas está muito em baixo (se os militares estiverem desanimados, sem coragem…).
Já me esquecia de chamar a atenção para a moral da história que pode ser esta: atenção ao mural (coisa afixada ou pintada na parede, no muro). Aqui trata-se de um caso de parónimos: moral/mural.
Num dos canais de televisão, recentemente, um senhor importante - com responsabilidades políticas (pago por nós) - repetia: O preia-mar isto, o preia-mar aquilo, etc. e tal …
Qualquer dicionário regista o substantivo atribuindo-lhe o género feminino: a preia-mar.
Poderia alguém perguntar. Por que é que a preia-mar é feminina, se o mar é masculino?
Explica-se:
O vocábulo mar provém de uma palavra latina (mare) que não é masculina nem é feminina: é do género neutro. Nas línguas novilatinas a palavra entrou com tendências femininas…la mer em francês, la mar em espanhol, la mar no português antigo. Mantém o género feminino em francês; e no espanhol (castelhano) pode ser dos dois géneros.
Em português, com a evolução da língua, mudou de género (se calhar foi porque o mar é másculo!…) Há muito disso na história das línguas…) de la mer (medieval) passou para o mar (actual). E então preia-mar?
Preia-mar é um substantivo composto por justaposição do adjectivo preia (= plena, cheia) e do substantivo mar, composto que se formou certamente no tempo em que mar ainda era feminino. Daí, pois, a preia-mar.
É tão errado dizer as milhares de vítimas como dizer dois dúzias de ovos!
São os chamados numerais colectivos que têm valor substantivo, obrigando o determinante a concordar com ele em género e número, e não com o complemento determinativo (neste caso, partitivo) que dele depende. Vejamos:
Os milhares de vítimas; Quantos milhares de vítimas; duas centenas de vitimados; as dezenas de homens; as dezenas de homens os milhões de pessoas; uma novena de padre-nossos; uma dezena de alunos; duzentas dezenas de alunos; um milhão ou milhar de euros.
Note-se que o uso de alguns dos numerais colectivos pode ser substituído pelo respectivo cardinal, que, esse, tem valor de adjectivo e, por isso, terá de concordar, se for variável, com o substantivo que se lhe seguir. Exemplos:
Um milhar de escudos ou mil escudos.
Um cento (ou um quarteirão) de sardinhas ou cem (ou vinte e cinco) sardinhas.
Duas centenas de pessoas ou duzentas pessoas.
Cinco centenas de gramas de café, ou quinhentos gramas de café. (Já agora não esquecer que o substantivo grama é masculino)
São construções comparativas, respectivamente para o comparativo de superioridade, de inferioridade e de igualdade. Usam-se na flexão do grau dos adjectivos e dos advérbios e também em construções comparativas com verbos.
Gosto mais desta maçã do que daquela. Gosto menos daquela do que desta. Gosto tanto daquela como desta. Gostamos menos de nadar do que de passear.
Mas se em vez de gostar usamos o verbo preferir, então a sintaxe é outra: Prefiro isto àquilo. Eles preferiam nadar a passear. “Preferir isto do que aquilo” é que não está conforme a norma…Deve dizer-se: Preferir uma coisa a outra; preferir ler um bom livro a ver televisão.
É que o verbo latino do qual provém preferir – praeferre – significa literalmente: levar antes, pôr adiante (uma coisa em relação a outra).
A propósito, aproveitamos para corrigir a RITA PEREIRA (aquela actriz que dá nas vistas… até pela muito limitada cultura que normalmente manifesta). Sentenciava ela: “representar não é o mesmo do que apresentar um programa…” Claro que não – ensinamos nós: Não empregue aquele “do”! Naquela frase o “do” está a mais: representar não é o mesmo que apresentar um programa. O “que”, nesta frase, não é mais do que um pronome relativo. Isto não é o mesmo que aquilo.
JÚLIA PINHEIRO descobriu, num dos seus últimos programas televisivos, que “Portugal é um dos que está em difícil situação financeira…”
Olhe que não, senhora profissional (?) . Diga antes: Portugal é um dos que estão em difícil situação financeira.
A oração relativa tem como sujeito o pronome “que”, relativo invariável que tem como antecedente o pronome demonstrativo “os” (com o qual se contrai a preposição “de”). Ora, segundo as regras de concordância, o verbo da oração relativa concorda com o antecedente de “que” quando este é o sujeito da oração. Portanto: “É dos que estão…”
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Desditosa és, Língua Portuguesa! Agora até o Professor Rebelo de Sousa te maltrata! Mas, perdoa-lhe, ó minha amada Língua, porque também ele… não sabe tudo! Eu vi e ouvi a agressão! Por isso prometo, minha amada, que vou defender-te! A sério, acredita-me. Vou procurar o Professor Marcelo e dir-lhe-ei: - Professor, não repita expressões como esta: “são muitos os cidadãos que se preocupam À SÉRIA com os carenciados deste País”. É que essa pretensa locução adverbial “à séria” constitui uma agressão à gramática portuguesa. É uma invenção ilegítima que os gramáticos e os dicionaristas condenam. “A sério”, sim! Esta é a única locução adverbial correcta e consagrada! “À SÉRIA” é… estultícia e, na boca de um catedrático, constitui crime de lesa PÁTRIA!
Estamos a falar de quê, afinal? Falamos de mais uma infracção às boas regras da Gramática Portuguesa e que grassa a torto e a direito entre falantes – normalmente petulantes – que se pavoneiam em qualquer canal de televisão.
A forma correcta é: De Quê, e não: Do Quê!
Quê, pronome interrogativo, não permite a anteposição de “o” precedido de preposição (contraída ou não). Logo, não deve usar-se: ao quê, com o quê, do quê, sem o quê, para o quê; mas sim: a quê, com quê, de quê, sem quê, para quê…
Porém, já deve dizer-se, por exemplo: “Fazes o quê?” – com “O” anteposto a “quê porque o “O” não vem precedido de preposição.
Mas - perguntamos nós - para quê tudo isto? Para respeitarmos a Língua Portuguesa!
1. Reaver - derivado de haver, só se conjuga nas formas em que haver tem a letra v. Quer dizer que não se conjuga na 1.ª, 2.ª e 3.ª pessoas do singular, nem na 3.ª do plural do presente do indicativo. Também se não conjuga no presente do conjuntivo e no imperativo só tem a 2ª pessoa do plural que é reavei. Seguindo a flexão de haver, o pretérito perfeito do indicativo de reaver é: eu reouve, tu reouveste, ele reouve, nós reouvemos, vós reouvestes (e não “reouvesteis”), eles reouveram.
2. Intervir é derivado de vir e como ele se conjuga. Assim, o pretérito perfeito de intervir é: eu intervim, tu intervieste, ele interveio, nós interviemos, vós interviestes, eles intervieram. O presente do indicativo é: eu intervenho, tu intervéns, ele intervém, (não intervem), nos intervimos, vós intervindes, eles intervêm. O particípio é: intervindo
3. Requerer, embora seja derivado de querer, não segue na totalidade o paradigma. Assim, a primeira pessoa do singular do presente do indicativo do verbo requerer é: requeiro (e não “requero”). A primeira pessoa do singular do pretérito perfeito é: requeri, diferente do verbo querer que é: quis.
Uma vez que o pretérito perfeito de requerer é diferente do de querer, todos os tempos derivados do tema do perfeito são, naturalmente, diferentes. A título de exemplo, o imperfeito do conjuntivo de requerer é: requeresse, e o de querer é: quisesse.
Convém não esquecer que nenhuma forma dos verbos pôr e querer se escreve com z. É sempre com s, pois é esta a consoante que aparece no radical.
Pelo contrário, dizer, fazer, trazer, escrevem-se sempre com z.
4. Os derivados de vir conjugam-se como intervir: advir, avir, convir, desavir, desconvir, entrevir, sobrevir.
5. Como pôr, se conjugam os seus derivados: antepor, apor, compor, contrapor, depor, dispor, expor, impor, pospor, prepor, propor, repor, supor, tendo em conta que as formas do infinitivo impessoal e a 1ª e a 3ª do infinitivo pessoal não são acentuadas nos compostos.
6. Como fazer, se conjugam os seus derivados: afazer, contrafazer, desfazer, perfazer, refazer, entre outros.
7. Como ter, se conjugam: ater, conter, deter, entreter, obter, reter, suster, mas tendo em atenção o uso de acento na 2ª e 3ª pessoas do singular do presente do indicativo e na 2ª do imperativo: conténs, contém.
8. Como ver, se conjugam: antever, prever, rever, mas prover já é regular no pretérito perfeito do indicativo e nas formas dele derivadas.
9. Como cair, se conjugam: decair, descair, recair, entre outros.
1. Morto é particípio de morrer e emprega-se nos tempos compostos conjugados com o verbo ser. Ex: O cão está morto; morrido é também particípio do verbo morrer e usa-se nos tempos compostos conjugados com o verbo ter. Ex: Têm morrido muitos animais.
2. Morto é particípio do verbo matar e emprega-se na voz passiva deste verbo. Ex: O coelho foi morto pelo caçador; matado é também particípio do verbo matar e usa-se nos tempos compostos deste verbo. Ex: O caçador tem matado muitos coelhos.
3. Embora os verbos apresentar, empregar, e encarregar tenham apenas o particípio regular (apresentado, empregado e encarregado, respectivamente), verifica-se que, na linguagem corrente, essas formas são frequentemente substituídas por pretensos particípios irregulares: presente, empregue e encarregue, cujo uso os bons gramáticos não recomendam.
Vale a pena lembrar que, tal como o verbo pensar, nunca regem a preposição “de” os verbos declarativos: afirmar, anunciar, comunicar, confessar, declarar, determinar, dizer, expor, manifestar, noticiar, ordenar, proferir, publicitar, saber.
Como se pronuncia a palavra TÊXTIL?
Ninguém é perfeito! Ninguém sabe tudo…Todo o mundo se engana…até os melhores!!!… Desta feita coube ao Senhor Professor José Hermano Saraiva dar o seu contributo para integrar o número dos que beliscam a Língua Portuguesa. E olhe, Sr. Professor, não se tratou de lapsus linguae já que durante o seu talentoso programa, referindo-se à indústria têxtil, repetiu seis vezes a beliscadura linguística: pronunciou téstil, quando a forma correcta é t-a-i-s-t-i-l! (aquele ê lê-se como o ditongo “ei” de seis) É assim que ensinam os gramáticos e os bons dicionaristas.
Como se pronuncia o substantivo Hierarquia?
São tantos os falantes a pronunciar “iárarkia” ! Bem se esperava que o sr. Ministro não enfileirasse na lista dos agressores da Língua Portuguesa. Já basta que outros agressores a ofendam despudoradamente, mas a quem tem responsabilidades governativas menos se tolera a incorrecção. Como se trata de uma palavra recorrente dentro do seu ministério, treine, sr. Ministro, a pronunciar a palavra hierarquia com “é” aberto e não transforme o “é” em “á” porque… é um disparate.
“NÓS” e “A GENTE”
Uma questão que anda por aí às vezes muito confusa tem a ver com: “nós” e “a gente”. E, no fim de contas, ela é bem simples, como vamos tentar explicar.
“NÓS”, pronome pessoal que é sujeito da primeira pessoa do plural dos verbos. É mesmo a única palavra que, expressa ou subentendida, pode servir de sujeito sintáctico a qualquer verbo na primeira pessoa do plural, em qualquer dos tempos verbais: “Nós fazemos, nós acontecemos!” (expresso); “Faremos tudo para não tropeçar…” (subentendido).
Ouve-se às vezes dizer que “a gente” não se deve empregar, que é incorrecto. Não, o que será incorrecto é “a gente” com o verbo na primeira pessoa do plural.
Concluindo:
“A gente fazemos”? Não! “A gente faz”. Ou então: “Nós fazemos”.
Ou “a gente” com o verbo no singular (3ª pessoa); ou “Nós” com o verbo no plural(1ª pessoa)
“Item” tem plural? E “Idem”?
“ITEM” é um latinismo, usado, na língua portuguesa como em outras línguas, na forma exacta que tem na língua latina em que é um advérbio e, como tal, não tem plural. Significa: igualmente, outrossim…
Acontece, no entanto, que, por via da chamada derivação imprópria, adquiriu, em certos usos, a categoria de substantivo. E assim, advérbio substantivado, ele tem direito ao estatuto gramatical dos substantivos e, por isso, está sujeito às mesmas regras desta classe gramatical, no caso, dos substantivos terminados em “em”, como: homem, nuvem, personagem. É, pois, correcto o uso do plural “itens”, como, por exemplo, na frase: “Li todos os itens do despacho”.
Com o vocábulo “IDEM” acontece coisa parecida, mas em sentido contrário. Trata-se do acusativo neutro do singular de um pronome demonstrativo latino que significa; o mesmo, a mesma coisa.
Nas línguas modernas atribui-se-lhe um certo valor adverbial ou conjuncional muito próximo do sentido de “item”: “O mesmo se diga sobre isto, o mesmo se diga sobre aquilo, idem aspas”…
Quando acima se disse que acontece coisa parecida mas em sentido inverso, pretende-se sugerir que, provindo de palavra latina variável (um pronome), integrou-se na língua portuguesa com valor adverbial. Trata-se pois de um pronome que se adverbiou (derivação imprópria). E é claro que um advérbio, como tal, não tem plural.
FORAM ELES QUEM MARCARAM?
Uma conhecida locutora da RTP dizia: “Foram os defesas quem marcaram os golos…”
Nesta construção, enfática, quando se usa “quem” este pronome relativo invariável (singular) exige o verbo no singular, na 3ª pessoa, não porque o verbo seja impessoal (que não é), mas porque o pronome é de 3ª pessoa.
Fui eu quem afirmou. Foram eles quem marcou. E: são eles quem há-de voltar a marcar. Éramos nós quem afirmava (Atenção, pois: oração relativa introduzida por “quem” (sujeito) tem o verbo sempre na 3ª pessoa do singular).
Mas, nesta mesma construção, se em vez de “quem” usarmos “que”, então o verbo concorda com o antecedente da palavra “que”: São eles que afirmam (somos nós quem afirma). Sois vós que afirmais (sois vós quem afirma.) És tu que afirmas. (És tu quem afirma).
E OS “PRIÚDOS?
A palavra “período” (do grego “períodos) é uma palavra esdrúxula que manteve a sua qualidade proparoxítona = esdrúxula, desde a etimologia. Depois da sílaba tónica (rí), que se deve também acentuar na pronúncia, tem mais duas sílabas – por isso é que é esdrúxula – que devem ser pronunciadas: período. Tem, portanto, quatro sílabas e a tónica é a antepenúltima. Experimente-se soletrar: “pe-rí-o-do. Então, priúdos ou periúdos nunca mais.
RECORDAR DE ALGO? NÃO! RECORDAR ALGO? SIM!
Recordar é um verbo transitivo que não precisa do “de” para nada. Recordar algo. Recordar que algo aconteceu.
A forma reflexiva do mesmo verbo (recordar-se), essa sim, exige a preposição, quer o complemento seja um sintagma nominal, quer seja uma oração substantiva: Recordar-se de algo. Recordar-se de que algo aconteceu.