15.1.12

CURIOSIDADES DA LÍNGUA PORTUGUESA
(2ª ed
ição)Augusto Domingues Alves---------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------
(01)
No primeiro dia de trabalho (?), de 2012, da Assembleia da República, um deputado dirigiu-se ao Primeiro-Ministro nestes termos:
“…VOSSA EXCELÊNCIA É CONHECEDORA DESTA SITUAÇÃO…”
Ora, como vem sendo hábito também na Assembleia da República, a Língua Portuguesa foi assim vilipendiada. Se não, vejamos:
A Gramática Portuguesa ensina que - na concordância do predicativo do sujeito com o sujeito – “quando o sujeito é uma expressão de tratamento (Vossa Excelência, Vossa Senhoria, etc.) o predicativo concorda com a pessoa a quem se destina esse tratamento”:
Vossa Excelência é conhecedor (se for homem) ou conhecedora, (se for mulher) desta situação. E isto porque, analisando sintacticamente aquela frase, encontramos como sujeito: Vossa Excelência e, como nome predicativo do sujeito: conhecedor
Mas aproveitemos o ensejo para ver tudo o que se passa, gramaticalmente, com a “concordância do predicativo do sujeito com o sujeito”:
-quando o predicativo do sujeito é um substantivo, concorda com o sujeito em número (e em género, caso o predicativo seja um substantivo flexional em género):
O trabalho e o esforço são exigências para todo o ser humano. O Diogo e o Afonso são campeões.
-quando o predicativo do sujeito é um adjectivo, se o sujeito for simples, concorda com ele em número e género:
A árvore é frondosa. Eles parecem simpáticos e bem-educados.
-quando o predicativo do sujeito é um adjectivo, se o sujeito for composto, e os elementos do sujeito forem do mesmo género, o predicativo vai para o plural e para o género dos elementos do sujeito:
A Constança e a Carolina estavam felicíssimas. O casaco e o vestido são pretos.
-quando o predicativo do sujeito é um adjectivo, se o sujeito for composto e os elementos do sujeito forem de géneros diferentes, o predicativo do sujeito concorda com o elemento do sujeito mais próximo, quando o verbo está no singular; quando o verbo está no plural, o predicativo vai para o plural masculino:
É sempre necessária força e jeito. Força e jeito são sempre necessários.
-quando o sujeito é um infinitivo, o predicativo do sujeito usa-se no masculino singular:
É maravilhoso ouvir a Alexandra e o Nuno a cantarem.

Como se pronuncia SENIORES?
O jornalista e locutor da RTP, José Rodrigues dos Santos – principescamente pago pelos contribuintes deste País (e autor de livros diversos… escritos a seu jeito!) não está isento de pecados gramaticais contra a Língua Portuguesa.
Com efeito, ao referir-se aos jogadores de uma equipa de futebol, pronunciou SÉNIORES (com a sílaba tónica em SÉ). Errou o Sr. Zé!
E Pedro Mourinho, da SIC, vai na onda dos disparates: também se engana, (ou não sabe!)
Deve pronunciar-se SENIÓRES (com a sílaba tónica Ó) porque as palavras, em Português correcto, são, quanto à acentuação, agudas, graves ou esdrúxulas, isto é, a sílaba tónica é a última, a penúltima ou a antepenúltima, respectivamente. Não existem palavras com sílaba tónica para além da terceira sílaba a contar do fim! Logo: Sénior, no singular! E seniores (com sílaba tónica na penúltima sílaba – O aberto mas sem acento, porque sendo uma palavra grave, não terminada em l, n, r, x ou z, não é acentuada. Quem alimentar dúvidas, poderá interpelar o VÍTOR MANUEL, que é dos poucos treinadores a pronunciar correctamente a palavra em apreço. (Será porque foi distinto treinador de equipas dos estudantes; a Associação Académica de Coimbra/OAF?

“TENTAM O POSSÍVEL POR FAZEREM O MELHOR”?
Que bom seria se os responsáveis deste País (e somos todos – uns mais que outros!) nos preocupássemos em investir algum esforço no sentido de não agredir a Gramática da Língua Portuguesa!
Aos menos privilegiados, àqueles que não puderam aceder à cultura, perdoai-lhes, ó Deus! Mas àqueles que lograram viver no pólo oposto e vivem agora com altos cargos públicos e alimentados pelos contribuintes, não lhes perdoeis, Senhor, as agressões e os crimes que perpetram conta a Língua Portuguesa! Como o ministro que dizia, recentemente: “todos os membros do governo tentam o possível por fazerem o melhor”, surgem no dia a dia, responsáveis a cometer publicamente violações daquilo que este País tem (ou tinha?) de mais sagrado: a Língua Portuguesa!
Naquela frase, o sujeito dos verbos “tentar” e “fazer” é o mesmo: “eles”, aqui subentendido. Neste caso, a Gramática ensina que não deve usar-se o infinitivo pessoal. Logo, a forma correcta será; “tentam o possível por FAZER o melhor”.
Bom! A menos que o senhor ministro estivesse a pensar que os membros do governo tentam o possível por os simples cidadãos fazerem o melhor! Assim, sendo diferente os sujeitos dos dois verbos, a forma estaria correcta! (Se calhar, é mesmo esse o pensamento e a prática dos políticos deste País!...)
Pais natais? NÃO!
Pais Natal! SIM!
De forma contida, expresso aqui a minha indignação resultante da afronta cometida pela Senhora Doutora Sandra Duarte (conhecida Linguista) numa das suas televisivas “lições de português”, ao ensinar (MAL!) que o plural de “pai natal” é “pais natais”. Não é não, “Sutora”! No plural, em português correcto, deve dizer-se e escrever-se “PAIS NATAL”. E sabe porquê, sutora”?
Veja comigo o que consta do “Grande Dicionário da Língua Portuguesa”: “Pai Natal, s. m. personagem representada por um velho de barbas brancas e roupas vermelhas , que, no Natal, supostamente distribui presentes pelas crianças”. E abra agora o “Prontuário Ortográfico e Guia da Língua Portuguesa”, de Magnus Bergstrom e Neves Reis, ou a “Nova Gramática do Português Contemporâneo”, de Celso Cunha e Lindley Cintra. A “sutora” ficará a saber como se respeita a Língua Portuguesa e não mais deixará de ensinar: “PAIS NATAL!
“Nos compostos formados por dois nomes, em que o segundo elemento tem uma função adjectival só o primeiro elemento vai para o plural: escolas modelo, palavras-chave, pais natal, projectos-piloto, etc…
--------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------
(02)

MÓBEIS ou MÓBILES?
Ao referir-se às motivações que levam o indivíduo à prática de crimes horrendos, palrava o Doutor na TVI no programa apresentado pela cacarejante Cristina Ferreira e pelo Luís Goucha: “nós nunca sabemos exactamente os móbeis intrínsecos a uma pessoa que é capaz de cometer tais atrocidades…”
Bom! Se nos situássemos no Porto (= norte do País) – onde o v é pronunciado b - seríamos levados a pensar que aquele doutor imaginaria qualquer cama, cadeira, banco ou mesa, dentro do criminoso!!!! Mas é óbvio que não! A cultura do catedrático não esbarra no campo físico (da Física) nem no campo metafísico. Trata-se sim do desconhecimento das regras gramaticais da Língua Portuguesa e/ou das suas excepções. Repetimos: desconhecimento e não mero lapso linguístico. Com efeito, o catedrático (que já leccionou numa das universidades que pululavam neste País) insistiu no erro (móbeis) vezes várias durante a sua gongórica argumentação.
Para não corrermos o risco de seguir este mau exemplo catedrático, tenhamos em conta que:
1.Regra geral, os nomes terminados em –al, -el, -ol, -ul formam o plural em –is: sinal/sinais; papel/papéis; lençol/lençóis; paul/pauis. Exceptuam-se as palavras: mal, real (moeda), cônsul e seus derivados que fazem, respectivamente, males, réis, cônsules e, por este, procônsules, vice-cônsules.
2. Os substantivos oxítonos, - agudos, isto é, aqueles cuja sílaba tónica é a última -, terminados em il mudam o L em S. Exemplos: funil/funis, covil/covis.
3. Os substantivos paroxítonos, - graves, isto é, aqueles cuja sílaba tónica é a penúltima – terminados em IL, substituem esta terminação por EIS. Exemplos: Fóssil/fósseis; réptil/répteis. Excepção: MÓBIL/MÓBILES.

IÓGA? Ou IÔGA?
Campeia por ai, sobretudo a nível de profissionais “pseudo-intelectuais” (de formação académica duvidosa) a tendência para modificar o que é linguisticamente correcto, e, assim, por ignorância, sede de protagonismo, ou desonestidade, alteram, a seu bel-prazer, a pronúncia consagrada nas gramáticas e Dicionários da Língua Portuguesa.
IÓGA (com Ó aberto) se deve pronunciar, e não iôga, com ô fechado. Pronúncia postulada pela origem da palavra, o sânscrito. E também não ônus e sim Ónus, pronúncia que postula a origem latina da palavra (onus, oneris, em que é longa a sílaba O – não acentuada graficamente por força das regras específicas do Latim)

COLONOSCOPIA? Ou COLOSCOPIA?
Nas áreas ligadas à Saúde, é frequente ouvir e ver ora uma ora outra forma. E ainda bem! Com efeito, documentam-se ambas.
Não vale é a defesa intransigente de uma única maneira de escrever! Escrever colonoscopia está correcto. Coloscopia também. Sendo que a forma colonoscopia se aproxima mais da origem: cólon+scopia; enquanto coloscopia é já o resultado da lei do menor esforço - que impera muitas vezes também na formação das palavras – com a queda (síncope) dos fonemas n, o. Talvez por isso, o “Grande Dicionário da Língua Portuguesa – Porto Editora” documenta o termo coloscopia, sem o definir, remetendo o leitor para o vocábulo COLONOSCOPIA, cujo significado aí se encontra explanado.

DIVEDE ou DIVIDE?
Todo o mundo sabe que a única forma correcta é DIVIDE.
Bem, “todo o mundo” … é exagero! Há excepção à regra! A cacarejante Cristina Ferreira, apresentadora da TVI, confirma a regra de haver excepção à regra! Berrava ela na apresentação de um programa televisivo: “o (… ) concorrente, vai trazer bebidas especiais… e DIVEDE- as por todos”.
Pois é! Devia levar um puxão de orelhas a Cristina! Mas quem lhe paga e quem lhe dá ouvidos merecia não ficar impune…

Como se pronuncia ZÊZERE?
O ainda Presidente da República, Cavaco Silva, meteu água, há dias (outra vez!!!!!). Ao enaltecer as potencialidades da água e dos terrenos que ladeiam aquele rio, o Presidente pronunciou, repetindo-se, Zézere, como se aquele “E” acentuado, o primeiro, tivesse acento agudo - ´- . Ora, escrevendo-se ZÊZERE, com acento circunflexo, a pronúncia daquele fonema “Ê” só pode ser pronunciado fechado. Foi um pecado venial apenas, pensar-se-á. Mas convenhamos que na boca de um Presidente da República aquela ofensa às boas regras da Gramática da Língua Portuguesa tem de classificar-se como pecado grave, mortal.
A “Nova Gramática do Português Contemporâneo”, de Celso Cunha e de Lindley Cintra, ensina:
“No português-padrão de Portugal as palavras proparoxítonas (esdrúxulas), que têm na antepenúltima sílaba, as vogais a, e, o , podem ser semifechas ou semiabertas, pelo que a ortografia em vigor manda que se lhes ponha acento circunflexo, se são semifechadas, e acento agudo, se semiabertas.
----------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------
(03)
APRESENTAMOS UM PEDIDO DE DESCULPAS OU APRESENTAMOS AS NOSSAS DESCULPAS?
Como mandam o bom senso e as regras da boa educação, nós apresentamos o nosso pedido de desculpas pelo engano cometido. Quem erra, quem se engana, quem ofende, não tem direito a desculpar outrem, a apresentar desculpas a quem quer que seja! Deve, isso sim, apresentar PEDIDO de desculpas. Nesta conformidade, queiram desculpar-me, por favor; aceitem o meu pedido de desculpas pelo lapso cometido; apresento-vos o meu pedido de desculpas.

LUIS JARDIM, presidente do júri do concurso “ A tua cara não me é estranha” ao comentar a actuação de um dos concorrentes opinou assim:…”ele MANTEU o nível manifestado nos ensaios…”
Nem o facto de ter “vivido muitos anos em Londres” justifica tal pontapé na Gramática Portuguesa. Ali, Luís Jardim falava num programa em Língua Portuguesa, numa televisão portuguesa, com a responsabilidade acrescida de presidente de um júri português. E não consta que se tenha penitenciado do mau exemplo: é que MANTEVE o disparate em comentários seguintes.
Falemos de PONTUAÇÃO:
Os sinais de pontuação servem para tornar clara e expressiva a língua escrita, uma vez que esta não dispõe dos recursos da língua falada, como as pausas ou a entoação, recursos esses que de algum modo a pontuação deverá representar, pelo menos de forma aproximada. Um uso adequado da pontuação é fundamental, dado que feita de forma incorrecta pode levar a uma interpretação diferente da pretendida.
Sirva de exemplo a seguinte frase:
“Um caçador tinha um cão e a mãe do caçador era também o pai do cão”.
Como se vê, é manifesta a confusão! Porém, basta recorrer ao uso de um “ponto e vírgula” no lugar certo e a expressão torna-se, sem mais, correcta, inteligível.
Veja-se a diferença:
“Um caçador tinha um cão e a mãe; do caçador era também o pai do cão”
Sendo vários os sinais de pontuação, explicitamos hoje o uso da “vírgula” (e não “vírula” como amiúde se ouve por aí!)
A vírgula marca uma pausa curta. Emprega-se para separar determinados elementos dentro de uma oração ou orações dentro de um mesmo período.
Apesar de não ser absolutamente uniforme a utilização da vírgula, há, no entanto, algumas regras que devem respeitar-se de forma a assegurar uma interpretação correcta.
01)O sujeito nunca deve ser separado do predicado por uma vírgula: Os alunos estudam as lições.
02)O verbo e o complemento directo nunca são separados por uma vírgula: Os alunos estudam as lições.
03)Separam-se por vírgula os elementos da oração que têm idêntica função sintáctica, quando não estão ligados por conjunção: o Afonso comprou uma caneta, um lápis, um livro e um caderno.
04)O vocativo é isolado por vírgula: Filha, o teu trabalho está bem feito!
05)O aposto é isolado por vírgula: João, o filho mais velho, é alto!
06)Coloca-se a vírgula depois de “não” e “sim” quando estes advérbios, em princípio de oração, se referem a uma oração anterior (como acontece, por exemplo, nas respostas): Não, ele nunca faria isso. Sim, acho que tens razão.
07)Colocam-se entre vírgulas palavras ou frases intercaladas numa oração cujas construções e sentidos se apresentam independentes da intercalada: O presidente, diz-se, vai pedir a demissão.
08)Separam-se geralmente por vírgula as orações coordenadas introduzidas por: mas, nem, ou, logo, porém, portanto; obrigatoriamente as que não são ligadas por uma conjunção: Não era muito inteligente, mas conseguia bons resultados nos estudos; Passeámos, divertimo-nos, jantámos fora.
09)A vírgula usa-se para isolar as orações relativas explicativas ou apositivas: “A Paula e a Alexandra, que vivem na mesma cidade, foram jantar juntas”.Note-se que as orações restritivas, ao contrário das explicativas, não podem nunca colocar-se entre vírgulas:” O indivíduo que me assaltou o carro deve ter ficado ferido”
10)Separam-se em geral por vírgula as orações subordinadas adverbiais, em especial quando ocorrem no início do período: Assim que chegares a casa, telefona ao teu pai.
11)Separam-se com vírgula algumas expressões com gerúndio ou particípio passado que equivalem a orações: A Joana, estando cada vez mais distraída, esquece-se de tudo.
12)A vírgula usa-se também para separar o nome do lugar, quando se data um escrito: Coimbra, 14 de Março de 2012.
13)Costuma separar-se por vírgula ou, em alternativa, por dois pontos, ou ponto o vocativo com que se iniciam cartas, requerimentos, ofícios, etc.: “Caro Amigo”.
----------------------------------------------------------------------------------------------------------------
(04)
Na apresentação de um dos Grupos Corais que actuaram no Centro de Artes e Espectáculos da Figueira da Foz, no concerto de homenagem ao Maestro Lopes Graça, a respectiva Maestrina explicou:…”vamos interpretar um poema d’A POETA Florbela Espanca”.
Alguns dos presentes sorriram, segredaran entre si naturalmente a propósito daquela originalidade. O sorriso deu lugar ao espanto e indignação quando a senhora maestrina persistiu no pontapé linguístico e espontaneamente, justificou-se assim: “Hoje, tanto se pode empregar poeta como poetisa para designar o feminino do substantivo masculino POETA”. A assistência presente nem tugiu nem mugiu indignada com tal desfaçatez e ansiosa por saborear a letra e a música do poema referenciado.
Convenhamos, porém, que não é verdadeiro o argumento invocado para justificar o uso de “poeta” em vez de “poetisa” no caso vertente.
Com efeito, todos os gramáticos ensinam que os substantivos que designam títulos de nobreza e dignidades formam o feminino com as terminações –esa, -essa e -isa (duque/duquesa, conde/condessa, profeta/profetisa, poeta/poetisa).

Aproveitemos o ensejo e examinemos a formação do feminino dos substantivos da nossa língua.
São dois os processos de formação do feminino:
a) A formação completamente diversa da do masculino, ou seja, proveniente de um radical distinto: bode/cabra; homem/mulher; genro/nora; marido/mulher; frei/sóror; cavalheiro/dama; pai/mãe; zângão/abelha; macho/fêmea…….
b) A formação derivada do radical do masculino, mediante a substituição ou o acréscimo de desinências: aluno/aluna; cantor/cantora; galo/galinha; lebrão/lebre; cidadão/cidadã.
Neste processo de formação pontuam as seguintes regras gerais:
1ª - Os substantivos terminados em -0 átono formam normalmente o feminino substituindo essa desinência por –a: gato/gata; pombo/pomba; lobo/loba….
Observe-se, contudo, que há um pequeno número de substantivos terminados em –o átono, que, no feminino, substituem essa final por desinências especiais. Assim: diácono/diaconisa; maestro/maestrina; silfo/sílfide; galo/galinha.
2ª - Os substantivos terminados em consoante formam normalmente o feminino com o acréscimo da desinência –a. Exemplos: camponês/camponesa; leitor/leitora;
Para além das regras gerais existem as regras especiais, a saber:
1ª) os substantivos terminados em –ão podem formar o feminino de três maneiras: a) mudando a final –ão em oa: ermitão/ermitoa; hortelão/horteloa; leitão/leitoa; patrão/patroa.. b) mudando a final –ão em –ã: aldeão/aldeã; castelão/castelã; cirurgião/cirurgiã…c) mudando a final –ão em ona: comilão/comilona; moleirão/moleirona; pobretão/pobretona...
*****

Seis observações ao que vem de ser dito: 1ª Os substantivos que fazem o feminino em –ona são ou aumentativos ou adjectivos substantivados. 2ª Além dos anómalos cão e zângão, (com o feminino cadela e abelha, respectivamente) não seguem estes três processos de formação os substantivos seguintes: barão/baronesa; ladrão/ladra; lebrão/lebre; maganão/magana; perdigão/perdiz; sultão/sultana. 3ª Os substantivos terminados em –or formam normalmente o feminino com o acréscimo da desinência –a: pastor/pastora; remador/remadora…Alguns, porém, fazem o feminino em –eira: Assim: cantador/cantadeira; cerzidor/cerzideira. Outros, dentre os finalizados em –dor e –tor, mudam estas terminações em –triz: actor/actriz, imperador/imperatriz. (De embaixador há, convencionalmente, dois femininos: embaixatriz (a esposa do embaixador) e embaixadora (a funcionária chefe de embaixada) ). 4ª Certos substantivos que designam títulos de nobreza e dignidades formam o feminino com as terminações –esa, -essa, e –isa: abade/abadessa; barão/baronesa; diácono/diaconisa; sacerdote/sacerdotisa. 5ª Os substantivos terminados em –e são geralmente uniformes. Há, porém, um pequeno número que troca o –e por –a. Assim: elefante/elefanta; governante/governanta; infante/infanta; mestre/mestra; monge/monja; parente/parenta. 6ª São dignos de nota os femininos dos seguintes substantivos: avô/avó; cônsul/consulesa; czar/czarina; felá/felaína; frade/freira; grou/grua; herói/heroína; jogral/jogralesa; maestro/maestrina; piton/pitonisa; poeta/poetisa; profeta/profetisa; rajá/râni; rapaz/rapariga; rei/rainha; réu/ré.
Vem agora à colação referir os substantivos epicenos, os sobrecomuns e os comuns de dois:
Denominam-se epicenos os nomes de animais que possuem um só género gramatical para designar um e outro sexo. Assim: a águia, a baleia, a borboleta, a cobra, a mosca, a onça, a pulga, a sardinha, o besouro, o condor, o crocodilo, o gavião, o polvo, o rouxinol, o tatu, o tigre.
Quando há necessidade de especificar o sexo do animal, juntam-se então ao substantivo as palavras macho ou fêmea: crocodilo macho/crocodilo fêmea; o macho ou a fêmea do jacaré.
Chama-se sobrecomuns os substantivos que têm um só género gramatical para designar pessoas de ambos os sexos. Assim: o algoz, o apóstolo, o carrasco, o cônjuge, o indivíduo, o verdugo, a criança, a pessoa, a testemunha, a vítima.
Neste caso, querendo discriminar-se o sexo, diz-se, por exemplo: o cônjuge feminino uma pessoa do sexo masculino.
São designados comuns de dois géneros os substantivos que apresentam uma só forma para os dois géneros, mas distinguem o masculino do feminino pelo género do artigo ou de outro determinativo. Alguns exemplos: o agente/a agente, o cliente/a cliente, o estudante/a estudante, o gerente/a gerente, o imigrante/a imigrante, o jornalista/a jornalista, o presidente/a presidente, o suicida/a suicida.
Todos os substantivos ou adjectivos substantivados terminados em –ista são comuns de dois géneros: o pianista/a pianista, um anarquista/uma anarquista.
Diz-se, indiferentemente, o personagem ou a personagem com referência ao protagonista homem ou mulher.
*****
“Encontrava se em Espanha um dos presos que se evadiu da Penitenciária de Coimbra…” assim noticiava o jornalista Hélder da RTP – (Mais um, pago por nós a peso de ouro!!!)
O jornalista não sabe que deve dizer-se: “Encontrava-se em Espanha um dos presos que se evadiram da Penitenciária de Coimbra”. O verbo não pode encontrar-se no singular porque o sujeito daquela oração gramatical é “que” referido a presos! (E não referido a UM) …
”Não lhe perdoeis, Senhor, porque ele devia saber o que diz”
-------------------------------------------------------------------------------------------------------------
(05)
DA QUALIDADE LINGUÍSTICA (01)

O uso da Língua Portuguesa deve ter em conta as características que asseguram a sua qualidade. Apontemo-las:
1. Correcção: rigor.
2. Clareza: precisão, ordem, propriedade.
3. Harmonia: elegância.
4. Pureza: vernaculidade.

Debrucemo-nos sobre a correcção:
O princípio em que assenta a correcção da linguagem é o do rigor. A correcção obtém-se quando o uso da Língua obedece às regras gramaticais dessa mesma Língua. A correcção é um dos pilares da clareza. Sem correcção não há clareza.
Vícios que prejudicam a correcção da linguagem:

a) Erros de concordância: (As regras gramaticais da concordância não são respeitadas):
Não:
Fazem cinco anos que; Houveram muitos acidentes; Existe muitas esperanças; Aluga-se casas; Precisam-se de operários; Procura-se empregados; Tratam-se dos melhores profissionais; Não passavam das oito da manhã quando…; Obrigado. – disse a rapariga;
Meia louca;
Sim:
Faz cinco anos que…; Houve muitos acidentes; Existem muitas esperanças; Alugam-se casas; Precisa-se de operários; Procuram-se empregados; Trata-se dos melhores profissionais; Não passava das oito da manhã quando…; Obrigada - disse a rapariga;
Meio louca.

b) Erros de regência (Desrespeito da norma de conexão a que uma palavra sujeita outra com que se articula.)
Não:
Não sabiam aonde ele estava: Não tem nada haver; Ficou sobre a mira do chefe.
Sim:
Não sabiam onde ele estava; não tem nada a ver; Ficou sob a mira do chefe.

c) Erros de construção, formação, flexão (incorrecções de ordem morfológica e sintáctica)
Não:
Mau-humorado; Mau-intencionado; Não viu qualquer risco; Inaugura amanhã a exposição de; A festa que relizou-se…; O rapaz interviu; Cerca de 18 pessoas; Ficou contente por causa que ninguém se feriu; Pensa-se isso mas não se o diz; A abordagem onde melhor se evidencia; Ao meu ver; Entre eu e ele; Há-des cá voltar; Este homem e mulher; Meu pai e mãe;..
Sim:
Mal-humorado; Mal-intencionado; Não viu nenhum risco; Inaugura-se amanhã a exposição de…; A festa que se realizou…; O rapaz interveio; Cerca de 20 pessoas; Ficou contente porque ninguém se feriu; Pensa-se isso, mas não se faz isso; A abordagem em que melhor se evidencia…; A meu ver; Entre mim e ele; Hás-de cá voltar; Este homem e esta mulher; Meu pai e minha mãe.

d) Erros lexicais.
Confusão entre palavras parónimas (uso indiscriminado de palavras com escrita e pronúncia semelhantes, mas com significados diferentes)
Não:
O modelo pousou; A corrente pluvial junto à foz… É preciso pagar a tacha; Fui levantar o cheque.
Sim:
O modelo posou; A corrente fluvial junto à foz; É preciso pagar a taxa; Fui levantar o cheque

e) Sinónimos imperfeitos. (Redução do uso de palavras com significado específico pelo abuso do conceito de sinónimo)
Não:
Com grande clareza, apresentou, acerca daquele tema, um pensamento muito complicado;
A situação era complicada, porque não tinha os meios suficientes para a resolver. Tratava-se de uma construção complicada, mas em que eram claramente visíveis os elementos que a constituíam.
Ensinar crianças é uma tarefa muito complicada.
Ver o amigo indefeso ser agredido foi o momento mais complicado da sua vida.
Foi complicado subir aquela encosta tão íngreme.
Viajar de avião, nos tempos que correm, é complicado.
Sim:
Com grande clareza, apresentou, acerca daquele tema, um pensamento muito denso.
A situação era difícil, porque não tinha os meios suficientes para a resolver.
Tratava-se de uma construção complexa, mas em que eram claramente visíveis os elementos que a constituíam.
Ensinar crianças é uma tarefa muito trabalhosa.
Ver o amigo indefeso ser agredido foi o momento mais aflitivo da sua vida.
Foi custoso subir aquela encosta tão íngreme.
Viajar de avião, nos tempos que correm, é perigoso.
Acabou por optar pelo método mais complicado de resolver o problema = Acabou por optar pelo método menos simples de resolver o problema

f) Palavras para todas as ocasiões:
Não:
A coisa (acontecimento) deu-se no fim da semana passada; há uma coisa (assunto) de que ainda não te falei; esta máquina é constituída por várias coisas (peças); conta-me lá essa coisa (história); estudem bem esta coisa (matéria); em cima da mesa está uma coisa (objecto); tu tens mais coisas (bens materiais) do que eu; fizeste uma coisa (acção) que nunca deverias ter feito…
----------------------------------------------------------------------------------------------------------
(06)
DA QUALIDADE LINGUÍSTICA (02)

Intencionalmente, repetimos que o uso da Língua Portuguesa deve ter em conta as características que asseguram a sua qualidade, a saber:
1. Correcção: rigor.
2. Clareza: precisão, ordem, propriedade.
3. Harmonia: elegância.
4. Pureza: vernaculidade.

Debrucemo-nos agora sobre a Clareza.
A clareza da linguagem permite o correcto entendimento e a boa compreensão do que se deseja comunicar. Obtém-se pela utilização das palavras apropriadas, colocadas na ordem adequada às relações de sentido que se quer estabelecer.

A) - Características - base da CLAREZA:

1. Precisão: uso exacto da linguagem, não exagerando, nem no sentido da acumulação de palavras desnecessárias, nem na falta das que são indispensáveis à sua compreensão.
NÃO: “Camões é um bom e excelente escritor que nos deixou uma obra invulgar e extraordinária”.
SIM: Camões é um excelente escritor que nos deixou uma obra extraordinária.
NÃO: “Afonso é um rapaz diferente”.
SIM: Afonso é um rapaz diferente dos outros rapazes da sua idade.

2. Ordem: colocação das palavras na posição relativa adequada às ligações que entre elas se quer estabelecer, para que, assim, essas ligações se tornem facilmente compreensíveis.
NÃO: “O homem leu o livro com interesse que lhe tinha sido oferecido”.
SIM: O homem leu, com interesse, o livro que lhe tinha sido oferecido.
NÃO: “Vou levar meio litro de álcool para o meu pai canforado que partiu uma perna dentro desta garrafa…”.
SIM: Vou levar, dentro duma garrafa, meio litro de álcool canforado para o meu pai que partiu uma perna…

3. Propriedade: justeza no uso das palavras adequadas ao que se quer significar, garantindo, assim, a sua correcta compreensão.
NÃO: “referia-se a professores muito sabedores e com muitos anos de experiência no terreno”.
SIM: Referia-se a professores muito sabedores e com muitos anos de experiência no ensino.
NÃO: “Referia-se a médicos muito sabedores e com muitos anos de experiência no terreno”.
SIM: Referia-se a médicos muito sabedores e com muitos anos de experiência clínica.

B) Vícios que prejudicam a clareza da linguagem:

1. Densidade demasiada ou utilização desnecessária de palavras ou expressões de uso e acesso restrito, tais como:
1.1 Arcaísmos (Palavras ou expressões antiquadas ou caídas em desuso):
NÃO: “Danosa é a atitude dos lusos que não hão respeito pela coisa pública”
SIM: É prejudicial a atitude dos portugueses que não têm respeito pelo Estado.

1.2 Neologismos (Termos novos, criados num dado momento, para designar novas realidades.)
NÃO: “Relogiofilia – Abre dia 8 a exposição de relógios antigos…”
SIM: Coleccionismo: Relógios. Abre dia 8 a exposição de relógios antigos…

1.3 Provincianismos/Regionalismos (Termos peculiares de certas províncias ou regiões)
Exemplo: “Não se aceitam colaboradores calaceiros ou useiros e vezeiros no desleixo do material”

1.4 Eruditismos (Palavras pouco difundidas que, pela formação ou significação, se encontram muito próximas do étimo e produzem um registo muito clássico)
Exemplo; “Durante a estação calmosa é nocivo empreendermos extensas peregrinações sob a veemência da radiação solar”.

1.5 Barbarismos (Palavras ou construções estrangeiras ou incorrectamente aportuguesadas).
Exemplo: “Eu já sabia que ela tinha feito um lifting, mas piercings? Já não é nenhuma teenager, mas tem a mania de que é uma top model e adora aparecer nas revistas do jet set”
1.6 Palavrosidade (Acumulação de palavras estéreis).
Exemplo: “Antes de mais e se me fosse permitido, gostaria de colocar aqui prioritariamente algumas questões prementes que…”

1.7 Modismos descartáveis (Fórmulas incorrectas ou desajustadas e desgastadas pelo uso insistente).
Exemplo: “Portanto, vou começar por lhe dizer o que penso”

1.8 Lugares-comuns (Práticas verbais rotineiras que esbatem a exactidão)
Exemplos: “Manifestou solidariedade para com a viúva inconsolável”; “Fez-se um silêncio sepulcral”

1.9 Hermetismo (Emprego de frases enigmáticas e ininteligíveis). Exemplo: “Alguma coisa foi feita de modo que o problema se encaminha para uma situação nova”.

1.10 Tautologias (Explicações de sentido através da repetição da mesma ideia com palavras afins, de um modo pobre e improdutivo).
Exemplos: “Explicou a questão, dando explicações sobre a mesma”; “Fez uma boa exposição, pois expôs muito bem”; “E, então, rodou, andando à roda”.

1.11 Pleonasmos (Repetição desnecessária de palavras que têm o mesmo sentido).
Exemplos: “Escrevia com a caneta que lhe fora oferecida grátis no dia anterior”; “A viúva do falecido jornalista permanecia imperturbável”.

N.B. Estes são alguns dos erros que ouvimos e lemos nos meios de comunicação social durante o mês de Maio findo.
________________________________________________ 
(07)
DA QUALIDADE LINGUÍSTICA (03)

Apontada que foi oportunamente a “Harmonia” como uma das características que asseguram a qualidade da Língua Portuguesa, vejamos o que se entende por essa propriedade linguística.

A harmonia fundamenta-se no cuidado com a selecção e colocação das palavras, de modo que a linguagem utilizada se estruture em frases elegantes, fluentes, variadas.

Conhecendo os vícios que prejudicam a Harmonia da Linguagem – e que são, obviamente, de combater e evitar – conseguiremos a exacta noção de uma expressão linguística elegante, harmoniosa.
Os vícios mais comuns são os seguintes:

- Cacofonia (encontro de sílabas que formam som desagradável, embaraçoso ou grosseiro). Ex: A neve verás no alto do monte; Estou a escrever só com uma mão; Ela fia com a roca dela; Dá-me essa cana.

- Hiato (encontro de vogais que não formam ditongo). Ex. Quero que beba a água; O Gama ama a Amélia.

- Eco ou dissonância (repetição incómoda de fonemas no final de palavras seguidas ou próximas). Ex: O sentimento que eu experimento neste momento é o descontentamento. Ficou espantado com o modo como o eleitorado havia votado tendo manifestado o seu desagrado.

- Colisão (sequência de consoantes ásperas). Ex: O credor, crédulo, cometeu o erro crasso de acreditar no crápula, cruzou os braços e deixou crescer a dívida.

- Parequema (repetição de sílabas com o mesmo som). Ex: O sapo pula. Fez o ataque que queria.

- Desarticulação dos parágrafos (sucessão de parágrafos estanques em que o sentido não flui). Ex: “O facto foi atribuído à carência de guardas verificada ultimamente.
Dentre as muitas centenas que se encontravam a cumprir pena, dois reclusos lograram evadir-se.
O facto de a prisão não estar muito distante da paragem do autocarro facilitou o afastamento dos fugitivos.
Pela primeira vez na sua história, esta prisão foi objecto de uma fuga com êxito.
Isto aconteceu por volta das quatro horas”


…. E as públicas AGRESSÕES GRAMATICAIS continuam a grassar nas televisões e jornais:
O professor universitário, Joaquim Fidalgo, convidado a comentar os destaques dos jornais em 2012.06.16, refere que “ O Correio da Manhã é um dos jornais que faz manchete da redução dos Tribunais”. Por lapso, esquecimento, (ou talvez não!) aquele professor universitário emprega o predicado (faz) no singular quando o sujeito se encontra no plural (que, referido a jornais). Logo, a frase correcta não pode deixar de ser: “O Correio da Manhã é um dos jornais que fazem manchete da redução dos tribunais”.
O Padre Joel Carlos, no Livro intitulado “Padre Matos – Quadros de uma Biografia”, de Manuela Mendonça, a fls 14, deixa escapar: “É dos que faz do sacerdócio um serviço e não um estatuto”. Também aqui é válido o comentário supra, expendido a propósito do professor universitário Joaquim Fidalgo. E a frase correcta é: “É dos que fazem do sacerdócio um serviço e não um estatuto”.

Reouve ou reaveu? Informava o jornalista: “ A polícia reaveu todos os objectos roubados no assalto…” Ora, a forma correcta é reouve. Trata-se da terceira pessoa do singular do pretérito perfeito do indicativo do verbo reaver, que significa “tornar a haver, recuperar”. Este verbo é formado a partir do verbo haver (re haver) . Por isso, tal como se diz houve, deve dizer-se reouve.

Rinque ou ringue? “Foi patinar para o rinque ou Foi patinar para o ringue?” A forma correcta é rinque e deriva do inglês rink. Designa um recinto próprio para a prática de patinagem. Ringue é um recinto quadrado, cercado por cordas, próprio para a prática de, por exemplo, boxe e provém do inglês ring. Assim, existem os dois termos mas com significados diferentes.

Queimou-se ou se queimou? “Quando o jovem se queimou, gritou muito ou Quando o jovem queimou-se, gritou muito?” Em bom português deve dizer-se (e escrever-se): Quando o jovem se queimou. Em frases ou orações subordinadas, iniciadas por conjunções, como quando, os pronomes me, te, se, nos vos, colocam-se sempre antes do verbo.

Será preciso ou serão precisas? “Vamos saber que obras será preciso fazer no edifício ou Vamos saber que obras serão precisas fazer no edifício”? A construção gramatical correcta é “ Será preciso”. Quando o sujeito da expressão “ser preciso” é uma oração, o verbo mantém-se no singular e o adjectivo “preciso” permanece invariável. É o que acontece neste caso, em que o sujeito de “será preciso” é a oração (infinitiva) fazer (obras) no edifício.

Se não ou senão? “Vou á praia, se não chover ou Vou á praia, senão chover?” Deve dizer-se “se não” e significa “no caso de não”. É uma oração constituída pela conjunção condicional “se” e pelo advérbio de negação “não”: se não chover. “Senão” utiliza-se como conjunção, com o significado de “caso contrário; de outro modo”: “Diz-me o que queres senão não posso ajudar”. “Senão” emprega-se também com o sentido de exclusão, sinónimo de só, apenas: “Não tenho senão um livro”

Roo ou roio? “Quando ouço os políticos, roo as unhas ou roio as unhas”? (Claro que não deve roer-se as unhas!) Mas eu roo…

------------------------------------------------------------------------------------------
(08)

Do 'mau-estar' ao 'Em fim'...
A jornalista e profissional da TVI, Judite de Sousa, no telejornal de 2012.08.10, provocou nos amantes da Língua Portuguesa um profundo mal-estar ao atribuir ao Dr. Alfredo Barroso, um certo mau-estar nas hostes sportinguisats. De facto, no mais belo quadro cai a nódoa… e não foi mero lapso já que a senhora Judite se atreveu a repetir o erro: mau-estar. Mal-estar é a forma correcta. Aliás, o antónimo é bem-estar e não bom-estar…A responsabilidade de uma profissional da comunicação social constitui maior dever do que aquela que decorre de um vulgar cidadão…
Já o actor Nicolau Brainer também usa e abusa da invenção da pronúncia de sofá dizendo sofá (com o aberto). Ora, deve pronunciar-se a palavra como se em vez de “O” se escrevesse “U”,isto é, o “O” não é aberto. Trata-se de uma palavra oriunda do árabe çuffa.
O mesmo actor utiliza a palavra “alcunha” como se fosse do género masculino: “um alcunha”. Existe sim o termo “alcunho” (género masculino) para designar também um epíteto depreciativo, mas ou se usa “o alcunho” ou “a alcunha”.
Dignitário ou Dignatário?
Em bom português a forma correcta é dignitário. Esta palavra provém do francês dignitaire. No Brasil, usam-se as duas formas…
Dilação ou Delação?
“Houve uma dilação na data de entrega do trabalho, ou: Houve uma delação na data de entrega do trabalho?
Deve dizer-se e escrever-se dilação. É um nome que significa “prolongamento; adiamento”. Delação é também um nome, mas significa “denúncia; acusação; revelação”.
Discordar de, ou discordar com?
Dizia o comentador desportivo: “ O treinador manifestou-se com gestos algo impróprios por discordar com as decisões do árbitro”.
A construção correcta é discordar das decisões. O verbo discordar pede a preposição de. A preposição “com” usa-se com o verbo concordar, que é antónimo de discordar. Assim sendo, diz-se discordo de ti mas concordo contigo.
Diminutivo ou Diminuitivo?
Correctamente, diz-se diminutivo. Esta palavra tem origem no latim deminitivu. A forma diminuitivo não existe. O seu uso incorrecto deve-se, provavelmente, á associação com o verbo diminuir.
Discrição ou Descrição
Comida à discrição ou comida à descrição?
Neste caso, deve dizer-se discrição. Discrição é um termo que significa “à vontade, sem restrições”
Descrição define, de uma forma geral, um relato ou uma enumeração de características de algo ou de alguém.
Discriminação ou descriminação?
Existem as duas formas mas com sentidos diferentes. Assim: “Discriminação racial”. Discriminação significa, neste caso, “segregamento; preconceito; intolerância” e deriva do latim discriminatione;
“Parece que roubar, entre os senhores do poder, é um acto actualmente descriminado…(sujeito a descriminação)” Neste caso, descriminação significa “acto de absolver de crime ou de inocentar” e deriva do prefixo des- ligado ao nome criminação.
Eleito ou elegido?
“O candidato teria sido eleito, ou o candidato teria sido elegido”? A única forma correcta é “teria sido eleito”.
Eleger é um verbo com dois particípios passados: um regular: elegido, outro irregular: eleito. O particípio regular é utilizado nos tempos compostos com os verbos auxiliares ter e haver, por exemplo: Os cidadãos tinham elegido o antigo presidente:
O particípio irregular é usado com os verbos auxiliares ser ou estar, por exemplo: O antigo presidente foi eleito pelos cidadãos.
Embaixador ou Embaixatriz?
A esposa de um embaixador é embaixadora ou embaixatriz?
Embaixadora é a mulher que desempenha o mesmo papel, ou as mesmas funções, que o embaixador e não a esposa deste. Logo, existem os dois termos com significados diferentes.
Eminência ou iminência?
Existem os dois termos com significação diferente.
Eminência designa o título conferido aos cardeais; Iminência significa qualidade de iminente, do que está prestes a acontecer, como, por exemplo, A iminência do perigo.
Empreendorismo ou Empreendedorismo”?
“Incentivo ao empreendorismo na criação de empresas ou Incentivo ao empreendedorismo na criação de empresas”?
Jornalistas, governantes e outros políticos usam frequentemente o termo incorrecto.
A forma correcta é “empreendedorismo”, palavra derivada de empreendedor mais o sufixo –ismo, e significa “iniciativa; dinamismo; empenho”.
“Encapuzados, encapuchados, ou encapuçados”?
As formas correctas são encapuzados e encapuchados. São particípios dos verbos encapuzar e encapuchar e surgiram das palavras capuz e capucho, respectivamente.
“Os assaltantes estavam encapuzados (ou encapuchados).
“Enfim, ou Em fim”?
São correctas as duas formas mas com significação diferentes:
“Chegou enfim a chuva, ou Chegou em fim a chuva? Aqui a forma correcta é “enfim” (advérbio com o sentido de finalmente. “Em fim” é uma locução com o sentido de “nos últimos dias, ou no fim de alguma coisa” como: “Em fim de carreira”, ou: uma grávida em fim de tempo”

(09)

Escrita correcta, pronúncia rigorosa

Como se sabe, o uso do “Bom Português” implica, por um lado, escrita correcta e, por outro, pronúncia rigorosa. Daí que lembremos ao actor Tó Zé Martinho que a letra “s” tem o valor de “z” quando se encontra entre vogais de uma mesma palavra (casa, por exemplo); ou, então, quando surge no final de uma palavra que antecede outra palavra iniciada por vogal (as andorinhas = azandorinhas). “S” pronuncia-se “ce” no início das palavras ou, encontrando-se no interior, vem depois de uma consoante (psicologia, denso, Elsa).
Assim sendo, o sr. Tó Zé Martinho não voltará a pronunciar “pzeudónimo”, mas sim “psseudónimo” quando se referir a pseudónimo (= nome suposto sob o qual alguns escritores publicam as suas obras).

Paraolímpicos ou paralímpicos
A persistência no erro não transforma o acto censurável em virtude. Do mesmo modo, o facto de vermos e ouvirmos com tanta frequência o termo “Paralímpico” referido a praticantes da competição desportiva internacional, de estrutura e objectivos idênticos aos das olimpíadas, destinada a atletas portadores de deficiência(s) não justifica a consagração do vocábulo “paralímpico” em vez do genuíno PARAOLÍMPICO. È que nem o alegado acordo ortográfico justifica tal parolice!
Já agora, registe-se a curiosidade: os “profissionais” da comunicação (os mesmos que inventaram o palavrão “paralímpico) pronunciam e escrevem “paraolimpíadas” – e muito bem!
Se dúvidas houvera, o Grande Dicionário da Língua Portuguesa, da Porto Editora, pág.1151 e 1152, ensina a verdade: “PARAOLÍMPICO”

Sobre escuta?
O Jornal de Notícias, na sua edição de 31.07, inseria um artigo onde, além do mais, podia ler-se: ….” Paulo Portas…. Teria estado sobre escuta… não sendo detectados quaisquer ilícitos…”
Ora, o que o jornalista pretendia comunicar é que as autoridades competentes teriam utilizado os necessários sistemas para controlar as comunicações telefónicas daquele governante. No entanto, a expressão “sobre escuta” vai no sentido contrário: acima da escuta, isto é, o sistema não captava as comunicações. A expressão correcta é: “teria estado sob escuta”.
Desejamos bem que o filão da “sobre escuta” não substitua o “sob escuta” sempre que se justifique e devidamente autorizado…independentemente dos seus destinatários…
Ai, se a moda pega… eles nos matam!

Perú ou Peru?
No Jornal “O Amigo do Povo”, de 2 de Setembro, na habitual rubrica “À Sombra do Castanheiro”, relatava o Carlos ao Tio Ambrósio: “Lá em casa, toda a carne, desde o frango ao perú, é tudo criado por minhas mãos”…
O autor do artigo, o reverendo Manuel Ventura Pinho, quis homenagear o galináceo com um acento na última sílaba. Desta forma, porém, a Gramática Portuguesa sentiu-se ofendida na medida em que, tratando-se de uma palavra aguda (a sílaba tónica é a última) não é acentuada. Com efeito, ensina a Gramática: “ nas palavras agudas, o i ou u, seguidos ou não de s, só são acentuados se estiverem precedidos de vogal com que não formam ditongo. Ex: aí, atraí(s), caí(s), Luís, país, baú, Esaú, etc.
Note-se, ainda: Se a sílaba terminar em l, m, n, r, z, não leva acento. Ex: Madail, Raul, paul, Saul.
Deve, pois, escrever-se peru sem acento.

Manifestou-se ou Manifestaram-se?
“A maior parte dos trabalhadores manifestou-se contra o encerramento”- dizia o sindicalista.
“A maior parte dos trabalhadores manifestaram-se a favor” – contrapunha o empresário.
As duas formas estão correctas. A Gramática ensina, relativamente à concordância do verbo com o sujeito:
Quando se trata de “Sujeito simples”, o verbo concorda com o sujeito simples em número e pessoa, quer aquele esteja expresso, quer esteja subentendido: os jovens estão atentos; hoje cheguei cedo”
Quando o sujeito é uma expressão partitiva – parte de, a maioria de, uma porção de, o resto de, metade de ou equivalente – seguida de um substantivo ou pronome plural, pode usar-se o verbo no singular ou no plural.
Quando o sujeito indica uma quantidade, sendo formado por um número plural antecedido das expressões cerca de, mais de, menos de, usa-se o verbo no plural: “cerca de mil pessoas manifestaram-se (e não: manifestou-se)…

Em vez de ou ao invés de?
Em vez de ir às compras, foi à praia, ou: Ao invés de ir às compras, foi à praia?
A forma correcta é em vez de.
A locução em vez de significa “em lugar de”: Em lugar de ir ás compras, foi à praia.
A locução ao invés de tem o sentido de “ao contrário, em oposição a”: Ao invés do Diogo, o Afonso prefere pintar, ou seja, Ao contrário do Diogo, o Afonso prefere pintar.

Entregue ou Entregada?
A proposta está entregue ou A proposta está entregada?
Neste caso, deve usar-se a forma entregue. Entregar é um verbo com dois particípios, um regular – entregado – e outro irregular – entregue.
O particípio regular usa-se com os verbos auxiliares ter e haver, por exemplo: Ninguém tinha entregado uma proposta.
O particípio irregular utiliza-se com os verbos auxiliares ser, estar, ficar, parecer permanecer, continuar.
A proposta está entregue. 

(10)
Na edição de 2012.10.01, o jornal “Correio da Manhã” inseria na sua primeira página a notícia de que “Judite de Sousa, não pára de estudar. Vai regressar à Universidade para se licenciar em Ciência Política…” 
De facto, saber não ocupa lugar! E até pode acontecer que Judite de Sousa aprenda o suficiente da Gramática da Língua Portuguesa para não repetir o disparate em que é useira e vezeira ao empregar o verbo preferir. Repetia ela em 12.09.25: “Os comerciantes antes preferiram vender os seus produtos do que adoptar o protesto acordado para não aceitarem o cartão para pagamento das despesas”. Duas gralhas na mesma frase: o verbo preferir não admite o advérbio “antes” nem a expressão “do que”. Logo, a construção correcta é : Os comerciantes preferiram vender os seus produtos a adoptar o protesto… 
 Informava um jornalista, profissional da RTP (o tal canal da televisão pública…): “Uma das vítimas do acidente ficou em estado grave e mantém-se ainda com diagnóstico reservado”. 
O termo correcto seria prognóstico (e não diagnóstico). Diagnóstico é a determinação e conhecimento de uma doença pelo estudo dos seus sintomas e pela análise de exames efectuados. Prognóstico significa, neste caso, parecer do médico, baseado no diagnóstico do doente, acerca da evolução e das prováveis consequências de uma doença ou lesão. 
A apresentadora de um programa matinal da RTP solicitava a uma das criancinhas entrevistada no “Dia dos Animais” : “Põe-o no chão para a gente vermos como ele corre”…
Pois é! Aquela profissional - paga com dinheiros públicos - pontapeou a Gramática em dois momentos! A frase correcta é: Põe-no no chão para a gente ver (ou para nós vermos) como ele corre. 
IR ou Irem? 
Trata-se do uso correcto do infinitivo verbal. Em português, o infinitivo tem duas formas: impessoal, ou não flexionada, e pessoal, ou flexionada, com flexão em número e pessoa. 
O infinitivo impessoal ou não flexionado usa-se quando, numa construção de subordinação, forem idênticos os sujeitos da subordinante e da subordinada: “o treinador prometeu aos jogadores ir fazer um estágio a Inglaterra”. 
O infinitivo pessoal ou flexionado usa-se quando, numa construção de subordinação, o sujeito da infinitiva é diferente do da subordinante: “o treinador prometeu aos jogadores irem fazer um estágio a Inglaterra. 
Pronto! Vamos embora! Ou: Prontos! Vamos embora? 
A forma correcta é Pronto. A palavra “pronto” é frequentemente usada como bordão, isto é, como uma palavra que se repete em jeito de conclusão, ou como expressão de um estado emocional: alívio, irritação, entre outros. Neste caso, é sempre invariável: “Pronto! Vamos embora!” Quando usado como adjectivo, “pronto” concorda em género e número com o nome que qualifica. Por exemplo: “Nós estamos prontos para sair.” 
Provém de Portugal ou: Provem de Portugal? 
Provém é a forma correcta. Trata-se de uma forma do verbo provir e não deve ser confundida com “provem,” que é uma forma do verbo provar. 
“Provém” é uma palavra aguda, isto é com acento tónico na última sílaba. “Provem” é grave, ou seja, acentuada tonicamente na penúltima sílaba. 
“Já li este livro, a Constança quere-o? Ou: Já li este livro, a Constança qué-lo? 
Deve usar-se “quere-o”. A terceira pessoa do singular do presente do indicativo do verbo querer – quer – constitui uma excepção à regra da conjugação pronominal. De acordo com a regra, as formas verbais terminadas em-r, -s ou –z perdem estas consoantes quando ligadas por hífen aos pronomes pessoais de complemento directo, o a, os, as, que, por sua vez, tomam as formas –lo, -la, -los, -las. Por exemplo: Tu levas o livro/tu leva-lo. Neste caso específico, em vez de a forma verbal “quer” perder o –r final, acrescenta-se-lhe um “e”: ela quere-o. 
A 100 quilómetros hora ou: A 100 quilómetros por hora? 
A forma mais correcta é “quilómetros por hora”, que exprime a ideia de “100 quilómetros por cada hora”. No entanto, a forma “quilómetros hora” vulgarizou-se, baseada na abreviatura Km/h 
Quociente de inteligência ou: Coeficiente de inteligência? 
 Quociente de inteligência é a forma correcta. É uma expressão da psicologia cuja forma abreviada, QI, é muito usada. 
Página três ou página terceira? Na enumeração de páginas e de folhas de um livro, assim como na enumeração de casas, apartamentos, quartos de hotel, cabines de navio, camas, ou equivalentes, empregam-se os cardinais. Nestes casos sente-se a omissão da palavra “número”. Ex: Página 3 (três); Folha 8 (oito); Cabine 2 (dois); Casa 31 (trinta e um); Apartamento 102 (cento e dois); Cama 21 (cama vinte e um). Se o numeral vier anteposto, usa-se o ordinal. Ex: Terceira página, oitava folha, segunda cabine, trigésima primeira casa. 
Artigo 1º (primeiro) ou artigo um? Na numeração de artigos de leis, decretos e portarias, usa-se o ORDINAL até nove, e o CARDINAL e dez em diante. Ex: Artigo 1º (primeiro); artigo 9º /nono). Artigo dez; Artigo 41 (quarenta e um).

 (11)
Capítulo XI (onze), ou Capítulo XI (décimo primeiro)? 
Na apresentação televisiva de um livro, recomendava o distinto professor catedrático: “o capítulo décimo primeiro deve ser lido com especial atenção…”. 
 Ora, a gramática ensina assim: “Em alguns casos o numeral ordinal é substituído pelo cardinal correspondente: Na designação de papas e soberanos, bem como na de séculos e de partes em que se divide uma obra, usam-se os ORDINAIS até décimo, - Gregório VII (sétimo); Pedro II (segundo); Século X (décimo); Acto III (terceiro); Canto VI (sexto); e daí por diante usa-se o CARDINAL, sempre que o numeral vier depois do substantivo: João XXIII (vinte e três); Luís XIV (catorze); Século XX (vinte); Capítulo XI (onze); Tomo XV (quinze). 
Quando o numeral antecede o substantivo, emprega-se, porém, o ordinal: Décimo século; Terceiro acto; Sexto canto; Vigésimo século; Décimo primeiro capítulo; Décimo quinto tomo. Assim sendo, o professor catedrático errou! 
Fá-lo, ou Faz-lo? 
Se queres o bolo, fá-lo, ou se queres o bolo, faz-lo? A forma correcta é fá-lo. Na conjugação pronominal, as formas verbais terminadas em –r, -s, ou -z, (como faz) perdem estas consoantes e acrescenta-se um –L aos pronomes pessoais de complemento directo (o, a, os, as) originando as formas -lo, -la, -los, -las. No caso das formas verbais que terminam em –r ou –z, ao perderem as consoantes acrescenta-se um acento agudo para manter a forma aberta.
Faz, ou Fazem? 
Faz oito anos que o Sporting não ganha o campeonato, ou Fazem oito anos que o Sporting não ganha o campeonato? Quando o verbo fazer indica tempo decorrido é impessoal e, por isso, só se usa na terceira pessoa do singular, faz. O verbo fazer pode ser substituído pelo verbo impessoal haver. Há oito anos. Faz oito anos que o Sporting…. 
Falta ou Faltam? 
Falta jogar dez minutos, ou faltam jogar dez minutos? Falta jogar dez minutos é a forma correcta. O verbo concorda sempre com o sujeito, que, neste caso, aparece posposto. O sujeito é uma oração formada por um verbo no infinito: jogar dez minutos. Por isso, faltar está conjugado na terceira pessoa do singular: falta jogar dez minutos = o jogo termina em dez minutos. No entanto, se a frase for Faltam dez minutos para jogar, o sujeito é Dez minutos e, por essa razão, o verbo conjuga-se no plural. 
“Vetadas ao abandono”! 
Foi assim mesmo (com “e” aberto e tudo) que acabei de ouvir no telejornal da SIC o locutor de serviço dizer, em mais uma notícia sobre os carenciados, que “aquelas pessoas estão vetadas ao abandono”. Será que o locutor (ou escrevinhador da notícia) não distingue estes dois verbos, que podem ser considerados parónimos: Vetar e Votar?... “Votar ao abandono” quer dizer “expor alguém a determinada situação ou condição: votar ao desprezo, esquecer.” Vetar, que aprendi a pronunciar com “e” aberto mas ouço-o por aí com “e” fechado não sei porquê, significa “impedir alguma coisa de acontecer, ou de ser levada à prática, proibindo-a através do “veto” (Dic. da Acad. que ensina que deve pronunciar-se com “e” aberto. Então repita-se: VETAR. 
“Tiveram de se endividarem”? 
“Os bancos entusiasticamente ofereciam créditos às pessoas, mas para isso tiveram eles próprios de se endividarem a bancos estrangeiros” (dito assim num dos doentios comentários televisivos sobre a crise) . Aqui está mais um caso de uso excessivo (incorrecto) do infinitivo pessoal. Trata-se de conjugação perifrástica do verbo endividar-se: ter de endividar-se. Nestes casos, o infinito mantém-se na forma impessoal, porque é ao verbo auxiliar – no caso, ter – que compete o papel de manter a pessoalidade. E, então, dir-se-á: “Os bancos entusiasticamente ofereciam crédito às pessoas, mas para isso tiveram eles próprios de endividar-se”. 
“De sobremaneira”? 
“O casino existe para enriquecer os seus proprietários, ajuda também o Estado a arrecadar mais umas massas, mas prejudica de sobremaneira os jogadores e apostadores” (DN de 26.10.12). Sobremaneira é um advérbio de modo que, por exemplo, o Grande Dicionário da Língua Portuguesa, da Porto Editora, regista com os seguintes significados: além do devido, muito, excessivamente, extraordinariamente. Quanto ao conteúdo, estamos perfeitamente de acordo! Mas discordo absolutamente com a infeliz ideia de fazer preceder o advérbio – sobremaneira – da preposição “de”. (ou de qualquer outra que fosse…) Está incorrecto. Correcto, portanto, seria: “… mas prejudica sobremaneira os jogadores e apostadores”. 
Prestes a, ou preste a? 
“O evento está prestes a acontecer ou O evento está preste a acontecer? “Prestes a” é a forma correcta. Trata-se de uma expressão composta pelo adjectivo invariável “prestes” e pela preposição “a” e significa “quase”, “a ponto de”, “iminente”, “preparado”. 

(12)
Vozeava o sindicalista: “Esta greve mostra de sobremaneira como os trabalhadores são capazes de lutar pelos seus direitos, contra as leis injustas e contra este Governo”.(Sublinhado nosso). Já explicámos, mas porque repetem por aí o pontapé na Gramática, continuamos a denunciar e… a tentar corrigir… Sobremaneira é um advérbio de modo que os Dicionários registam com os seguintes significados: “Muito, excessivamente, extraordinariamente”. Prendendo-nos apenas à forma, sempre diremos que discordam os Dicionários e as boas Gramáticas da infeliz ideia de fazer preceder o advérbio – sobremaneira – da preposição “de” (ou de qualquer outra que fosse…). Está incorrecto. Correcto, portanto, seria: “mostra sobremaneira”. 

No português europeu verifica-se o fenómeno colectivo de os falantes tenderem cada vez mais a fechar as vogais. E nos meios auditivos da comunicação social verifica-se, quotidianamente, o não emudecimento (“fechamento das vogais”). Se não, atentemos no que acontece com o prefixo “sobre”. Eles pronunciam “subretudo”, “subreviver,” “subrestimar”, “subrescrito”, quando o Bom Português exige que se pronuncie sôbretudo, sôbreviver, sôbrestimar, sôbrescrito, com o “o” bem fechado, bem audível, enriquecendo a musicalidade da palavra dita. (Note-se bem: na escrita não se usa o acento circunflexo!) 

 INVOCAR e EVOCAR …” O jurista recusou testemunhar, evocando o dever de sigilo profissional…” O uso do verbo “evocar,” aqui, não é correcto. Correcto seria “invocar”. Para o provar, bastaria consultar os dicionários e procurar uma lista de verbos compostos de “vocare” (= “chamar”) cujo correspondente em português seria “vocar”, mas não se usa (nunca se terá usado; o nosso verbo correspondente – chamar – provém do latino “clamare). Apenas se usam os compostos que provêm directamente dos respectivos compostos latinos, alguns deles, como “avocar” e “revocar”, mais do uso jurídico: avocar, convocar, evocar, invocar, provocar. No caso em epígrafe, correcto seria: “invocando o sigilo profissional”. 

DE VAGAR e DEVAGAR. Estou com falta “de vagar” para resolver o assunto ou: Estou com falta devagar para resolver o assunto? A forma correcta é “de vagar”. Trata-se da preposição “de” e do substantivo “vagar”, que significa, neste caso, “tempo livre”. “Devagar” é um advérbio, que significa “lentamente”. Por exemplo: Ele caminha devagar. 

DEVER ou DEVER DE? Os advogados “devem estudar” o caso com cuidado ou: Os advogados “devem de estudar” o caso com cuidado? A construção perfeita é “devem estudar”, sem a preposição “de”. A seguir ao verbo auxiliar de modalidade “dever” usa-se o infinito do verbo principal, como em “devem estudar”. O verbo “dever” não se usa seguido da preposição “de”. DERIVADO AO? 

 Ele tem a perna engessada “devido ao” acidente ou: Ele tem a perna engessada “derivado ao acidente”? A construção correcta é “devido ao acidente”. “Devido” exprime “causa” e deve ser acompanhado da preposição “a”: “devido a”. “Derivado” exprime “origem; procedência”, devendo surgir acompanhado da preposição “de”: “derivado de”. 

DILAÇÃO ou DELAÇÃO? Lia-se, em rodapé, num canal público da Televisão Portuguesa: “…Houve delação na entrega dos documentos…” Aguardámos o desenvolvimento da notícia na expectativa do exacto esclarecimento sobre a quebra do segredo de justiça e, enfim, para saber quem teria sido o delator. Mas, afinal, não houvera “denúncia”, “acusação”, “revelação” de facto algum, como sugeria o termo usado: “delação”. Pretendia informar-se que “houve dilação na entrega dos documentos”, isto é, houve um adiamento, um prolongamento do prazo para a entrega dos documentos! Assim nos desensinam os profissionais da RTP … que até são BEM pagos pelos contribuintes. 

DIMINUTIVO ou DIMINUITIVO? (Parece que o computador também não sabe! Aceita as duas formas! Mas uma só é correcta) A forma correcta é “diminutivo”. Esta palavra tem origem no latim “deminutivu”. A forma “diminuitivo” não existe. O seu uso indevido deve-se, provavelmente, à associação com o verbo “diminuir”. 

DIZEMOS-LHES ou DIZEMO-LHES? A forma correcta é “dizemos-lhes”. Na conjugação pronominal, o verbo na primeira pessoa do plural do presente do indicativo não perde o –s final quando seguido dos pronomes “vos” ou “lhes”. 

COM NÓS ou CONNOSCO? COM VÓS ou CONVOSCO? A resposta é: “Depende”. Se o pronome “nós” vier apenas precedido da preposição “com”( sem qualquer reforço adicional pospositivo) emprega-se “connosco” “convosco”. Porém, quando os pronomes “ vêm reforçados por “outros”, “mesmos”, “próprios”, “todos”, “ambos” ou qualquer numeral dir-se-á: “com nós”, “com vós). Assim: “Terá de resolver com nós mesmos”; “saiu com vós outros”; “estava com nós três”; “conto com todos vós”. 

 (13)
Qual é o feminino de judeu? Judia ou judaica? A forma correcta é “judia” e refere-se a uma pessoa natural da Judeia ou que segue o judaísmo. Regra geral, as palavras terminadas em “-eu” fazem o feminino em “-eia”. No entanto, “judeu” e “sandeu” fazem excepção: a terminação “-eu” muda para “-ia. Assim, deverá dizer-se (e escrever-se) “judia” e “ sandia”. “Judaica” é a forma feminina do adjectivo “judaico” e significa relativo aos “judeus”. 

“Sem tabús ou com tabus? Se há coisa com que eu embirro, é com tabus. E então, se estão incorrectamente escritos…Temos visto por aí tabus com acento agudo no “u”. É claro que, gralha ou erro, não está conforme as normas vigentes. Por que se deve acentuar “baú” e não “tabu”? Dizemos “se deve” porque deve mesmo, pois a lei ortográfica por enquanto assim o determina. Se os responsáveis últimos da revisão de textos, de títulos…( onde quer que se publiquem) – livros, revistas, jornais – tivessem o cuidado de não prescindir de um prontuário ali à mão, estas gralhas não grasnariam… Um prontuário fiável, claro! É assim que faz toda a gente que tem obrigação e responsabilidade de não cometer incorrecções ortográficas ou gramaticais: 1.º Se duvida – e é bom que duvide! - , consulte o prontuário: e o prontuário logo lhe apresenta “tabu” sem acento. 2.º Se quer saber o porquê – e é bom que queira! - , vai, no mesmo prontuário ou numa gramática fiável – sim, porque também nesta questão de gramáticas, convém saber se são fiáveis…-, rever as regras de acentuação gráfica. E, se a gramática não desmerece a nossa confiança, lá nos informará: o –“i” ou o “-u” tónicos em palavras oxítonas (agudas), só se acentuam graficamente se são precedidos de vogal com a qual não formam ditongo e não seguidos de consoante que não seja “-s”. É o caso de “baú”, baús”, “caí”, “país”, “saí”, “saís”, etc. É pela mesma razão (ou pela mesma confusão…) que a palavra “peru” aparece por aí muitas vezes, também incorrectamente, com acento. Com acento, nem “peru”, nem “perus”, nem “perua”, nem “peruas”… E, já agora, palavras como: “Raul”, “paul”, “adail”, “juiz”, “cair”, “Abiul”? Não levam acento: o –i e o –u tónicos são seguidos de consoante que não é –s. E: “saiu”, “contribuiu”, “pauis”? Também não: a sílaba tónica é um ditongo: (-iu, -ui), precedido de vogal. 

 “Item” tem plural? E “idem”? “Item” é um latinismo, usado, na língua portuguesa, como em outras línguas, na forma exacta que tem na língua latina em que é um advérbio e, como tal, não tem plural. Significa: igualmente, outrossim… Acontece, no entanto, que, por via da chamada derivação imprópria, adquiriu, em certos usos, a categoria de substantivo. E assim, advérbio substantivado, ele tem direito ao estatuto gramatical dos substantivos. Entrou nas línguas modernas por via da linguagem tabeliónica e legislativa, para introduzir os sucessivos “considerandos”. Aliás, a palavra “considerando”, que é uma forma verbal adjectiva, também ela adquiriu, pela mesma via da derivação imprópria, a categoria de substantivo. Exemplo: os considerandos da proposta, do decreto… Tendo adquirido os direitos dos substantivos, está sujeito às mesmas regras desta classe gramatical, no caso, dos substantivos terminados em “em”, como: homem, nuvem, personagem. Correcto é, pois, o uso do plural “itens”, como, por exemplo, na frase: “Li todos os itens do despacho”. Com o vocábulo “idem” acontece coisa parecida, mas em sentido inverso. Trata-se do acusativo neutro do singular de um pronome demonstrativo latino que significa: o mesmo, a mesma coisa. Nas línguas modernas atribui-se-lhe um certo valor adverbial ou conjuncional muito próximo do sentido de “item”: “o mesmo se diga sobre isto, o mesmo se diga sobre aquilo, idem aspas…”Aspas, digo bem, pois, como é sabido, umas meras aspas (“) – não o espanholismo “comas” – podem substituir a palavra “idem”. Quando acima se disse que acontece coisa parecida mas em sentido inverso, pretende-se sugerir que, provindo de palavra latina variável (um pronome) integrou-se na língua portuguesa com valor adverbial. Trata-se, pois, de um pronome que se adverbiou. E é claro que um advérbio, como tal, não tem plural. 
“Treuze”… ou Treze? Há falantes da nossa língua (provavelmente regionalismo) que ao pronunciarem este numeral cardinal – 13 – alongam a primeira sílaba em ditongo: “treuze”. Trata-se de um desvio à norma: “treze”.De resto, o processo evolutivo desde o étimo (palavra latina donde deriva) é o seguinte: “tredecim” > “treeci” > “treeze” > treze. Logo, TREZE. 

“De a”… ou “Da”? “Apesar da janela estar fechada, está frio”? Ou: “Apesar de a janela estar fechada está frio”? A construção correcta é “de a”. Quando a seguir à preposição “de” se encontra uma forma verbal no infinitivo (estar) não se faz a sua contracção com o artigo: “Apesar de a janela estar fechada”. Quando a preposição “de” não está seguida dessa forma verbal, a contracção já ocorre: “Apesar do frio, não fechamos a janela”. “Decreto-lei, ou. Decreto de lei? A forma correcta é decreto-lei. É uma palavra composta por justaposição. A outra forma não existe.
------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------
(14)
Os malfeitores, isto é, os criminosos, os facínoras da Língua Portuguesa, aparecem nos quatro canais generalistas de televisão. Durante este mês de Fevereiro (não escrevo Fevereiro com “f” minúsculo porque me considero ainda livre, independente, não colonizado) ouvi e vi patacoadas de bradar aos céus. Assim: 

 “A calote que o vigarista pregou foi grave”
 A forma correcta é “o calote”, que significa “dívida”. A calote significa superfície esférica intersectada por um plano. 

“Áustrália, país da Oceania...” 
Deve escrever-se Oceânia. É uma palavra esdrúxula e, portanto, acentuada graficamente na penúltima sílaba, que deve ser lida com mais intensidade. O acento gráfico é o circunflexo, porque a vogal –a, que constitui a sílaba tónica, é semifechada. 

“A cônjuge foi atropelada pelo próprio marido”
A notícia não é verdadeira (na sua forma, claro!). Se o marido atropelou a esposa, foi o cônjuge que foi atropelado e não a cônjuge. Cônjuge é um nome masculino que tanto se refere a esposo como a esposa. O género da palavra não tem a ver com o sexo da pessoa. Estes substantivos, que têm um só género gramatical para designar pessoas de ambos os sexos, chamam-se substantivos sobrecomuns. Além de cônjuge, há outros: o algoz, o apóstolo, o carrasco, o indivíduo, o verdugo, a criança, a criatura, a pessoa, a testemunha, a vítima. Nestes casos, querendo discriminar-se o sexo, diz-se, por exemplo, o cônjuge feminino; uma pessoa do sexo masculino. 

E o substantivo “cliente”? “Cliente sem dinheiro, não me interessa” 
É do género masculino ou é feminino? Vejamos o que ensinam as Gramáticas: Alguns substantivos apresentam uma só forma para os dois géneros, mas distinguem o masculino do feminino pelo género do artigo ou de outro determinativo acompanhante. Chamam-se comuns de dois géneros estes substantivos. Por exemplo: o agente, a agente; o artista, a artista; o estudante, a estudante; o intérprete, a intérprete; o jornalista, a jornalista; o suicida, a suicida; o presidente, a presidente (jamais a presidenta!!!). São comuns de dois géneros todos, sem excepção, os substantivos ou adjectivos substantivados terminados em –ista: o pianista, a pianista; um anarquista, uma anarquista. Diz-se, indiferentemente, o personagem ou a personagem com referência ao protagonista homem ou mulher. 

“O diabetes é a causa de muitos problemas a nível da saúde dos portugueses”. 
Do lado de lá do Atlântico, usa-se “o diabetes”. Em Portugal, a forma correcta é “a diabetes”. 

“Trata-se de uma espécime rara”. 
Forma correcta é o espécime. Tem origem no latim –specimen, que, sendo uma palavra de género neutro, deu origem ao masculino em português: o espécime. 

“O coração é o orgão vital…” 
Não é verdade! O coração é que é o órgão vital!!! De facto, trata-se de uma palavra grave, isto é, com acento tónico na penúltima sílaba. Segundo a regra da acentuação, as palavras graves terminadas em ditongo nasal (ão) levam acento gráfico na sílaba tónica. Exemplos. Órgão, órfão. 

 “As milhares de vítimas…” 
dizia o apresentador telejornal. Não, senhor! A forma correcta é -.os milhares de vítimas. Milhar provém da forma neutra latina –mlliariu, que passou para o português sob a forma masculina. Logo, os milhares. 

 “Entre algumas centenas de adeptos aparecem sempre algumas ovelhas ranhosas” 
Ovelha ronhosa ou ranhosa? A forma correcta ronhosa e provém de ronha /(espécie de sarna que ataca ao animais). A expressão ovelha ranhosa generalizou-se pela aproximação fónica e ortográfica entre ronhosa e ranhosa. 

“Um parênteses, ou um parêntesis? 
Trata-se de um substantivo masculino para designar um sinal gráfico que identifica e delimita uma palavra, expressão ou frase que se intercala num texto para dar informação adicional, mas não essencial. Tenhamos em conta que no singular (mas só no singular) podem usar-se as duas formas: parêntese e parêntesis. Parêntese é singular e tem como forma do plural parênteses. Parêntesis é invariável. Logo, um parêntese, um parêntesis, dois parênteses, dois parêntesis. “Sair dentro de água” (?) 

“Sair dentro de água”, 
só se for o marinheiro do submarino em submersão ou o molusco do búzio no chão do mar…No caso aqui visado, é incorrecto, pois, para significar o que é expresso pelo complemento circunstancial do lugar donde, terá de ser: “sair de dentro de água” ou simplesmente, “sair da água”. O contrário também: “ir para dentro de água” ou simplesmente, “entrar na água”. 

“Com o temporal as árvores caiem…”? 
Nunca caiem. Mas, normalmente, caem. É que os verbos terminados em –air perdem o –i na 3ª pessoa do plural do presente do indicativo, que terminam em –aem.